A importância e a sacralidade do Heroísmo

Perseu de Benvenuto Cellini

O sagrado não é relativizável, mas pode ser irreconhecível, a depender da higiene espiritual e mental de cada indivíduo. Podemos, naturalmente, usar o termo herói de maneira metafórica para nos referirmos a alguém que nos inspira, ou que demonstra força interior ao enfrentar uma dificuldade da vida. A psicologia junguiana vai, de fato, defender que o heroísmo é algo intrínseco à psique humana, um arquétipo, e pode aflorar em diferentes medidas ao longo da vida de cada pessoa. Mas o fato é que o termo tem significado próprio, e em seu contexto de origem é ainda mais profundo que o junguiano, uma vez que é sagrado. Em outras palavras, o Heroísmo é uma expressão da alma dos mortais que nem mesmo os deuses são capazes de igualar! Daí a presença em todas as epopeias guerreiras Indo-europeias dos deuses como espectadores.

Vamos lá explicar para o leitor novo aqui no blog ou não esteja familiarizado com o termo. A palavra herói tem uma similar em cada língua indo-europeia, pois está intimamente ligada aos fundamentos da cultura proto indo-europeia (doravante, PIE)*, como a cavalaria e a Roda Solar. O termo mais antigo conhecido é do sânscrito Arya, que também pode ser traduzido para o português como nobre. Claramente não apenas como detentor de um título, mas como alguém cujo karma é ser um kshatryia (classe guerreira) e que age de acordo com o Dharma, ou seja, com a Lei Divina. Um Arya Manushya, homem nobre, é aquele cuja conduta reflete e defende a Ordem divina. Em grego arcaico o termo era hērōs, e sua tradução literal é defensor. Cabe aqui ressaltar, defensor não só do território e de outros indivíduos, mas sobretudo defensor desta mesma Lei Divina a que os Védicos chamavam Dharma. Uma lei outorgada pelos deuses, e que se expressa por si só na natureza e nas mentes virtuosas, um conjunto de regras e de costumes que fazia assim na terra como no céu. Uma ética de cima para baixo, que estabelece o sagrado no alto e o profano em baixo, o correto e o errado, quem se eleva (deuses e heróis) e quem se curva. Ou seja, uma hierarquia, do grego hieros (santo, divino) e arquia (poder). É também desta mesma raiz PIE que surge na Grécia arcaica o termo Aristocracia, do grego aristos (melhor, mais apto) e cracia (governo), estabelecendo a hierarquia social na qual governavam os melhores, ou seja, os defensores. E que tem paralelos mais uma vez em absolutamente todas as demais culturas indo-europeias, haja vista mais uma vez a classe kshatriya entre védicos.

Dito isto podemos traçar uma primeira conclusão, a de que herói é aquele que defende algo que transcende a si próprio. Lutar pela própria vida, ou pelos próprios direitos, não é heroísmo, porque não tem o sentimento de abnegação pelo qual o herói arrisca a sua vida mortal por algo além dele, algo mais importante do que a sua limitada e breve existência. Defender a sua vida, lar, família, etc. nada mais é do que um dever de honra. Aquilo que faz de alguém um homem. E ainda que a raiz da palavra herói e homem sejam a mesma, o significado é outro. O heroísmo exige um sacrifício da própria vida mortal em virtude da defesa da Ordem Divina, seja ela a manutenção da justiça, a defesa da soberania da terra, da integridade do seu povo, e mesmo da imortalidade e incorruptibilidade da própria alma – por isso podemos usar de maneira metafórica para nos referirmos a quem enfrenta certos desafios do destino ou nos inspira a fazê-lo.

É por isso também que nem todo herói é homem nem guerreiro. As culturas indo-europeias estão repletas de heroínas mulheres, como Alcione, que ofereceu a própria vida em troca da do esposo, rei da Fócia; Andrômeda, que seria sacrificada ao monstro Ceto no lugar do país aonde era princesa, para assim reparar a quebra da Lei Divina feita por seus pais. Ou mesmo Antígona que perdeu a vida desafiando uma ordem real que proibia os ritos fúnebres de seu irmão. Ordem esta que claramente infligia a Lei Divina, uma vez que impedia uma celebração religiosa de encaminhamento de uma alma desencarnada.

O Heroísmo é a expressão máxima da alma de um mortal ultrapassando seus maiores limites, que são precisamente a corruptibilidade da mente e da alma pela matéria e a sua mortalidade. E em defesa daquilo que sabe ser mais importante do que sua vida, pois é algo sagrado e que, portanto, a transcende. Razão pela qual a maioria dos heróis lembrados, o são por terem defendido a Soberania, uma deusa indo-europeia vinculada ao território e seus recursos vitais para o povo de origem dos heróis. E é por priorizarem estas tradições que os transcendem e salvaguardar os mais fracos, que até mesmo os deuses admiram e invejam os heróis. Pois imortais como são, os deuses nunca vão poder dispor da própria vida para defender o que quer que seja. Os duelos e guerras divinas são certamente os maiores embates do Cosmo, mas mesmo se derrotado, um deus não morre. O risco que um deus corre não se iguala ao do herói. Por isso eles se reúnem para observar as guerras do alto e tentar interferir a favor daqueles que defendem suas leis.

Desta maneira as epopeias de grandes guerras indo-europeias narram uma disputa entre os mortais ocorrendo ao mesmo tempo que deuses assistem e disputam também entre si. No Táin Bó Cualgne vemos a própria Soberania da Irlanda, a deusa Morrighan, interferindo dentro e fora da batalha. No Mahâbhârata diz-se que o dia passou mais lentamente, pois até os planetas em seu curso desaceleraram para que os deuses pudessem assistir à batalha. Na Ilídia os deuses conspiram e tomam parte no combate. E mesmo consentindo no ardil que matou Aquiles, Zeus irrompeu em lágrimas e o céu em chuva no momento da morte.

O historiador das religiões Mircea Eliade cunhou o termo Hierofania, que é a expressão do sagrado na matéria, sua manifestação na Terra, como em um rito, uma aparição divina. Comumente entre Indo-europeus, a própria natureza em seus ciclos é uma hierofania. Exemplos disso são a chegada do outono quando Perséfone desce ao Hades e da primavera quando ela retorna ao Olimpo, e as próprias lágrimas de Zeus caindo em chuva. O Heroísmo também o é, pois é uma manifestação do sagrado oriundo da alma dos mortais, visto que é uma das maneiras pela qual a alma encarnada transpõe as ilusões da matéria, do corpo, para defender a única coisa que é real: o sagrado, o imortal, o espiritual, a força que anima o mundo material mas que existe independente dele pois transmuta-se em formas materiais variadas, uma após a outra ao passo que estas perecem. A vida e a identidade são ilusões uma vez que são passageiras e curtas. O real é o sagrado, a alma, os deuses, a Lei Divina, e as tradições.

Para o perenialista René Guénon, há um vetor de conhecimento sagrado, alcançado através do estudo formal e da contemplação, ou seja, da vida sacerdotal. Esta sabedoria está por trás de toda ação ordenada, e torna possível reconhecer o motor imutável em todas as manifestações naturais e de todas as tradições. De fato, tradição não é um costume. Defender a tradição não é defender um costume. Tradição é esta motivação espiritual, este motor eterno que perdura através de costumes que, hábitos que são dos mortais, perecem com o tempo dando lugar a outros semelhantes, igualmente animados por este motor, a Lei Divina. Assim, os costumes, a estética das culturas e das religiões desaparece ou se transforma com o tempo, ao passo que a tradição, a motivação espiritual por trás dos costumes, permanece no cerne de todos eles. Defender a tradição é, portanto, defender este motor espiritual e este conhecimento transcendental.

É por esta razão que um tradicionalista reconhece o sagrado não só na sua cultura e religião, mas também em outras. Ele reconhece a alma por trás dos costumes, e reconhece quando um costume é desprovido de alma. Logo, ele crê no direito de todos os povos de preservarem suas tradições. O oposto do tradicionalista é aquele que agride tradições por não ser capaz de reconhecer a Lei Divina, o vetor transcendental nos costumes, mesmo nos estrangeiros. É aquele que só vê a aparência dos costumes e não compreende o motor espiritual por trás destes. Portanto, o fundamentalista, que acha que vai corrigir o mundo obrigando todos os povos a praticarem seus costumes, não é um tradicionalista. Na verdade, presta um desserviço à humanidade e à Lei Divina. Igualmente o religioso que desperdiça tempo do seu dia maldizendo outras religiões – esta carapuça também cabe em “pagãos” vitimistas. Estes em nada diferem do cristão, judeu ou muçulmano que acham que o que não está em seus livros sagrados é demoníaco. Para além da aparência física bípede, estas almas se encontram caminhando sobre quatro patas espirituais bem presas à matéria.

E o que dizer do progressista e do ateu que subvertem e deturpam as tradições para obter lucro ou aplacar a dor que sentem, agredindo àquilo que são incapazes de compreender? Incapazes de perceber que sua cegueira espiritual é precisamente a razão de sua dor? O progressista que acha que é religioso mas se queixa de um costume, mito ou símbolo, por que não consegue sentir o vetor metafísico e julga ser injusto, incompatível com seu “conhefimento” e sua moralidade modernos? Como aquele que apoia produções midiáticas que relativizam figuras de heróis e tentam fazer monstros parecerem vítimas? Este Progressista está atolado na lama thamásica da matéria, não só com as quatro patas mas também com a fuça enfiados nela. Fede tanto quanto ela, ronca fuçando pérolas para comer, devora absolutamente tudo o que vê pela frente, de maneira indiscriminada.

O progressista que tenta relativizar os heróis e vitimizar os monstros, o faz porque se identifica com estes últimos. Eles se sentem vitimizados pela vida, e a verdade é que todos nós o somos. Mas não transcendem suas dores por serem incapazes de fazer aquilo que Joseph Campbell disse, acessar o arquétipo do herói dentro de si frente às adversidades do destino. Pode até ter um Q.I. decente, mas o Coeficiente Emocional é negativo. E sendo de natureza incompatível com a do herói, ou seja, sendo incapaz de transpor o passado, escolhem permanecer eternamente no rancor e na raiva, lentamente entram na frequência espiritual do monstro. Enquanto o herói exterioriza em sua conduta a Lei Divina, como luta contra os monstros, o Progressista exterioriza em sua conduta o desejo descontrolado do monstro. Assim, os confundem consigo mesmos, e com vítimas. E confundem o herói com o mau. Quando na verdade, uma simples olhada no mito e na história, vai mostrar que todos os heróis passaram por injustiças duríssimas na vida, perderam seu alicerce e desceram ao fundo do poço, mas escolheram escalá-lo e voltar para a luz.

Há cerca de uma década a relativização de Perseu e Medusa entrou para a agenda, mas agora ganhou ares cinematográficos. O argumento é o de que Perseu é misógino por ter matado Medusa, e esta não era um monstro, mas uma vítima de estupro injustiçada pela, igualmente misógina, deusa Atena. No entanto, ao consultar os textos da antiguidade, vemos que Medusa era uma das 3 górgonas, ou seja, nasceu monstro, filha de Ceto e Phorkys (ou Gorgo). E que teria tido um relacionamento amoroso com Poseidon, dele gerando 2 filhos, Pégaso e Crisaor. É assim para quase todos os escritores da Antiguidade grega: Hesíodo, Apollodoro, Ésquilo, Pausanias, Nonnus e Higino. A exceção é Ovídio, poeta romano, não grego, que por volta do século 1 d. C. vai colocar em suas obras Medusa como uma sacerdotisa de Atena que teria sido transformada por esta em monstro. Vamos pontuar que esta é uma variação romana e tardia do mito e crença gregos, e que Ovídio era poeta, não sacerdote, ele não fala em nome da crença romana, ele usou sua licença poética.

É na obra Metamorfose que Ovídio vai dizer: “Medusa foi violada no templo de Minerva (Atena) pelo Senhor do Mares (Netuno / Poseidon), a filha de Jove (Atena), virou-se e cobriu seus olhos virgens com seu escudo. E então, como punição, transformou o amável cabelo da górgona em serpentes.” É deste trecho “Medusa foi violada”, que surgiu a interpretação dúbia, mas muito em voga, de que Medusa teria sido estuprada por Podeison. Contudo, esta interpretação não leva em conta que a palavra violação não tem unicamente o significado de estupro, mas o de transpor limites. E de que o termo violação também era empregado em Roma nos processos jurídicos contra sacerdotisas Vestais acusadas de manter relações sexuais consensuais.

Assim como para uma Vestal, se fosse Medusa uma sacerdotisa de Atena, a perda de sua virgindade seria uma violação de seu juramento à deusa, de sua capacidade de exercer o sacerdócio. E ainda mais grave, a violação ocorrendo no templo, era também uma violação deste, uma profanação, e ofensa à própria deusa. Tanto assim o é que na versão de Ovídio, Minerva, presente por imanência no templo, precisou virar-se e esconder seus olhos para não ter sua inocência igualmente violada. Isto significa que é maior a probabilidade de o autor ter escolhido o termo “violada”, para se referir à profanação da sacerdotisa e do templo, ou seja, à violação da Lei Divina, não necessariamente a um estupro.

O mesmo autor escreveu na obra Heroides: “Netuno, se você estivesse atento às chamas do seu próprio coração, não permitiria que nenhum amor fosse impedido pelos ventos […] , nem Medusa quando seus cabelos ainda não estavam entrelaçados com cobras, nem Laodice e Celaeno de cabelos dourados levados para o céu, nem aqueles cujos nomes me lembro de ter dito. Estas, certamente, Netuno, e muitas mais, dizem os poetas em suas canções, misturaram seus abraços suaves com os teus.”

Parece ao leitor que “misturar abraços suaves” é licença poética para estupro? De concreto o que temos é que a alteração do mito grego feita por Ovídio se inspira na história romana e se resume a transformar Medusa em sacerdotisa. É possível que até para ele, a relação com o Senhor dos Mares tenha permanecido consensual, como é no mito grego.

A campanha progressista de difamação de Atena e de Perseu, como a de todos os deuses, tradições e heróis, tem base em uma interpretação subjetiva de uma única fonte histórica, ao passo que ignora todas as outras que afirmam o contrário. Os progressistas que apoiam, por ignorância ou por cumplicidade, estão profanando o mito, que muito além de oferecer conhecimento formal acerca do sagrado e do passado, carregam este motor imutável do Heroísmo. Através do mito, do exemplo do herói, qualquer alma pode acessar este vetor de conhecimento sagrado e encontrar o herói dentro de si mesmo, e superar as adversidades da vida.

O progressismo torna mais difícil a vida do ser humano. Mas ele vai passar, tudo passa. Eu vou passar, o leitor também. Os costumes passam, as tradições continuam tomando outras formas. As Eras passam. A Idade dos Heróis passou, e no entanto os heróis continuam existindo. Em um percentual muito menor, é verdade, mas o Heroísmo continua acessível ao coração de qualquer mortal. Essa Era também vai passar. Aqueles que estão nela e ainda assim são capazes de ver a chama sobrenatural da tradição animando costumes atuais e do passado são poucos. Mas se os deuses os colocaram aqui e agora para carregar a responsabilidade de manter esse fogo aceso até a aurora da Idade de Ouro, apesar de todo o antagonismo, é porque apostam na sua capacidade de fazê-lo. Um trabalho de formiga – mirmídones, como eram chamados os soldados de Aquiles.

*Exemplos do Proto-indo-europeu: *h₂ner (homem, herói), *h₃érō (águia), *wiHrós (homem, herói). Entre germânicos, helt (alemão da Baixa Idade Média: herói). No proto-celta: *nero- (nobre, herói), *wāro- (homem, herói). Na língua portuguesa, de origem celta e latina, estes termos culminaram também nas palavras ‘viril’ e ‘virtude’.

3 opiniões sobre “A importância e a sacralidade do Heroísmo

  1. Henrique Figueiredo's avatar
    Henrique Figueiredo 21 de Janeiro de 2024 — 13:11

    Ótimo texto! Parabéns, Elisa.

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  2. Brazilian Druid's avatar

    Texto maravilhoso. Parabéns.

    Frases retiradas do texto e dignas de nota:

    O Heroísmo é uma das maneiras pela qual a alma encarnada transpõe as ilusões da matéria, do corpo, para defender a única coisa que é real: o sagrado, o imortal, o espiritual, a força que anima o mundo material mas que existe independente dele pois transmuta-se em formas materiais variadas, uma após a outra ao passo que estas perecem. A vida e a identidade são ilusões uma vez que são passageiras e curtas. O real é o sagrado, a alma, os deuses, a Lei Divina, e as tradições.

    O progressismo torna mais difícil a vida do ser humano. O progressista que tenta relativizar os heróis e vitimizar os monstros, o faz porque se identifica com estes últimos. Enquanto o herói exterioriza em sua conduta a Lei Divina, como luta contra os monstros, o Progressista exterioriza em sua conduta o desejo descontrolado do monstro.

    Progressismo não preza pela evolução nem pelo progresso. É somente uma crença de que o passado deve ser descartado e somente o novo deve ser celebrado. Para o progressista, não há e não deve haver continuidade. Ora, eu sou matemático e, na Matemática, um conceito muito valorizado para as funções é a continuidade, pois só podemos julgar a derivada (positiva = ascensão, negativa = declínio) para as funções contínuas. Portanto, o Progressismo é na verdade um “Retrocessismo”.

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  3. Meshaque Muthisse's avatar

    Excelente texto…

    Lendo o seu texto tomei a liberdade de fazer uma análise reflexiva sobre o heroísmo.

    O heroísmo, como conceito cultural, reflete não apenas a coragem física ou a bravura em face do perigo, mas também uma expressão mais profunda da identidade e dos valores de uma sociedade. Ao examinarmos diferentes culturas ao longo da história, podemos questionar: como o heroísmo é definido e celebrado em diversas sociedades? Será que existem padrões universais ou é uma construção cultural única para cada grupo humano?

    Além disso, a tradição desempenha um papel fundamental na perpetuação e na transmissão desses ideais heroicos. Mas como as tradições são moldadas e reinterpretadas ao longo do tempo?

    A crítica progressista aos mitos e figuras tradicionais também nos leva a refletir sobre a natureza da mudança cultural e da resistência à tradição. Será que essa crítica é uma reação à estagnação ou uma negação da sabedoria acumulada ao longo dos séculos?

    Por fim, ao explorarmos o heroísmo e a tradição sob uma lente antropológica, somos confrontados com a complexidade da experiência humana e a diversidade de perspectivas que moldam nossa compreensão do mundo. Como antropólogos, devemos nos perguntar: como podemos aprender com as diferentes manifestações do heroísmo e da tradição para enriquecer nossa compreensão da humanidade como um todo?

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