Tradução : Leônidas e os esparciatas na batalha das Termópilas (18-20 de Agosto de 480 a.C.)

[Tradução do original Léonidas et les spartiates à la bataille des Thermopyles (18-20 août 480 av. J.C.), de Nicolas L. disponível em: https://institut-iliade.com/batailles-memorables-de-lhistoire-de-leurope-leonidas-et-les-spartiates-a-la-bataille-des-thermopyles-18-20-aout-480-av-jc/ ]

Batalhas memoráveis da história da Europa. Primeira parte

Ilustração retirada da obra The story of the greatest nations, from the dawn of history to the twentieth century : a comprehensive history, founded upon the leading authorities, including a complete chronology of the world, and a pronouncing vocabulary of each nation. de John Steeple Davis (1900)Source : Wikimedia (cc)

Introdução

A obra coletiva « Aquilo o que nós somos » editada pelo Institut Iliade nos lembra que ser europeu é antes de tudo « transmitir a herança ancestral, defender o bem comum ». Este é todo o desafio de nosso combate : transmitir nossos valores para defendê-los mas também transmiti-los defendendo-os. Pois existe um vínculo inegável entre a vitalidade de um povo e sua vontade de combater.

Dominique Venner o havia ilustrado perfeitamente em um artigo intitulado « Guerra e Masculinidade », publicado na La Nouvelle Revue d’Histoire. Sob risco de chocar, ele sublinhava o caráter de certa forma trágico que havia assumido para os franceses a conjunção entre o fim de Guerra da Algéria,  « sentida como o fim de todas as guerras » e a evolução em direção a uma sociedade inteiramente condenada aos valores mercantes e ao consumismo.

Em  Le Choc de l’Histoire ele escrevia também que « os lugares em paz só sobrevivem pelas virtudes exigidas na guerra ».

Tudo isto nos leva à seguinte constatação : se a guerra é um grande mal para aquele que deve sofrê-la, ela constitui não somente uma necessidade para todo povo que tem a vontade de sobreviver mas também um fenômeno que faz (re)nascer entre os homens as qualidades mais enaltecedoras.

Aliás, na tradição espiritual dos antigos povos da Europa, a guerra tinha uma função transcendental através das promessas de imortalidade feitas aos guerreiros que tombavam no campo de batalha.

Mais próximo de nós, o sociólogo francês Gaston Bouthoul, fundador da polemologia, reconhece « que existe nas guerras um aspecto moral incontestável. Mesmo os mais determinados dos pacifistas não podem negar que a guerra exalta virtudes emocionantes : a coragem, a dedicação, a fidelidade, a amizade entre combatentes, a camaradagem, a lealdade. É na guerra que se manifestam em seu mais alto nível o amor pela pátria e a fidelidade à suas leis ».

É à lembrança destas verdades imutáveis que deseja contribuir o presente estudo através de uma antologia, consideravelmente fracionada, das batalhas memoráveis que marcaram a história da civilização europeia.

Ela se compõe de informativos que abordam cada batalha descrevendo seu contexto, o ou os personagens chaves assim como as qualidades que eles demonstraram.

Com certeza, estão amplamente retratados o senso do dever, o das responsabilidades que incubem a todo chefe de guerra ou ainda a mentalidade de sacrifício que permite ao combatente europeu lutar por uma ideia ou uma representação que lhe é superior (Roma, o Império, a Cristandade…)

Mas o leitor encontrará também, notadamente através da evocação de certos corpos de elite, a lembrança de uma tradição marcial que os Europeus de hoje se interessam em cultivar na perspectiva das provações futuras.

Como escrevia Dominique Venner em Le Choc de l’Histoire :

« Eu creio nas qualidades específicas dos Europeus que estão provisoriamente em dormição. Eu creio na sua individualidade ativa, na sua inventividade e no despertar de sua energia. »

Boa leitura !

Leônidas e os esparciatas na batalha das Termópilas (18-20 de Agosto de 480 a.C.)

Contexto e personagem

No século V a.C., o mundo grego estende sua influência através de todo o Mediterrâneo graças a suas 1500 Cidades-Estado e às colônias que elas implantam junto ao mar. Duas cidades predominam : Atenas e Esparta. Para Atenas, o século de Péricles vai logo abrir-se. Esta cidade decide apoiar os Estados gregos da costa oeste da Ásia, em luta contra o muito poderoso império persa, dotado de um reservatório humano gigantesco e dispondo de recursos financeiros e materiais na medida de sua dimensão – um território vinte vezes maior que aquele da Grécia ! Após a repressão das cidades jônicas e da derrota de Eretria, principal aliada de Atenas, o rei Dário decide punir Atenas pelo apoio que esta cidade deu a seus inimigos. Ele envia então uma expedição para atacar os Gregos desembarcando em Maratona onde o exército persa conhece, no entanto, em 490 a.C., uma humilhante derrota sem nem chegar a incomodar a cidade ateniense. Uma década mais tarde, Xérxes, segundo filho de Dário, decide por uma nova expedição para a qual ele mobiliza os gigantescos meios de seu império. É assim que após quatro anos de preparação, um exército estimado em 210 000 homens, acompanhado de 1200 navios de guerra, atravessa o Helesponto (estreito dos Dardanelos) em Maio de 480 a.C. para iniciar uma das maiores invasões que conheceu a Europa. Atravessando a Grécia de norte a sul, o impressionante exército persa avança em direção a Atenas e a Esparta. Graças à ação diplomática de Temistocles, chefe militar e influente homem político ateniense, a maioria das cidades que compunham então a Grécia, aceitam fazer um front comum no seio da Liga de Corinto para defender aquilo que têm em comum : « uma raça, uma língua e uma religião ». Uma vez fixada sobre as cidades que aderiram à resistência e após os armamentos de seus membros quanto à definição da melhor estratégia a adotar, a liga decide enviar sua frota subir a costa na altura da linha que liga o desfiladeiro das Termópilas no estreito de Artemísio.

É então que Leônidas, rei de Esparta, aceita a pesada tarefa de comandar uma tropa de alguns milhares de homens dentre eles 300 guerreiros vindos do corpos de elite dos hoplitas, a fim de retardar o gigantesco exército Persa no famoso desfiladeiro das Termópilas. Esta decisão devia ter a dupla virtude de fazer com que o exército grego ganhasse tempo e encorajar as últimas cidades hesitantes do Sul a aderir à Liga de Corinto.

Nesta época, Léonidas já reina sobre Esparta há 10 anos. Ele iniciou sua carreira militar aos 20 anos como todos os seus compatriotas. Enquanto chefe de guerra, ele dirige a temida falange hoplita, infantaria de elite do exército grego, à qual só têm acesso certos cidadãos em função de sua classe social e de sua idade. Praticando uma existência muito austera (alimentação simples, vida familiar reduzida, proibição de exercer seus direitos políticos , treinamento militar constante), os guerreiros da célebre capa vermelha eram reputados em toda a Grécia por seus valor guerreiro e sobretudo por sua coragem. Incitando à inspirar-se no seu exemplo, Maurice Bardèche escreve, em seu livro Esparta e os Sulistas (1969) : « [A Esparta] o preceito da coragem era claro e resolvia todas as dificuldades. A coragem dava o acesso à aristocracia e estava-se excluído dela se lhe faltava coragem… A educação não tinha outro objetivo se não exaltar a coragem e a energia. » O autor nos lembra também que, longe de uma literatura que, majoritariamente reduz Esparta a uma caricatura de sociedade militarizada, Esparta deve na realidade ser antes vista como uma ideia baseada no fato de que o valor de um homem se mede pelo destino que ele se dá e que seu status consiste mais de seus atos que das riquezas que ele possui. Para Bardèche, Esparta encarna também uma ideia de liberdade : é a cidade onde liberdade consiste justamente em fazer a escolha de renunciar à sua parcela, a individual, para consagrá-la à proteção do grupo, de seus costumes e suas leis.

A batalha

Os combates desdobram-se de 18 a 20 de Agosto no ano de 480 a.C., o que dá uma ideia da resistência dos esparciatas que seguram, durante 3 dias, um exército cuja dimensão era sem comparação possível com aquele dos gregos. Contudo, a superioridade numérica dos Persas torna-se inoperante pela configuração das localidades. A estreiteza da passagem das Termópilas restringe os soldados de infantaria persas ao se atirar contra os grandes escudos e as armaduras de bronze dos hoplitas e à se empalar contra suas longas lanças. Durante os dias de 18 e 19 de Agosto de 480, cada vez mais abatidos mas resistindo, graças à sua disciplina e a sua resistência, uma combatividade inabalável, os combatentes da falange grega repelem todos os contingentes enviados contra si, entre estes as tropas de elite de Xerxes, os famosos Imortais. Mas a traição de um grego, Efialtes, permite que Xerxes tome conhecimento de uma trilha montanhosa que lhes permite contornar a posição defendida por Leônidas e pegar pela retaguarda sua tropa, enquanto o exército persa continua a pressionar sobre o muro de defesa dos Lacedemônios. Diz-se que Leônidas, sabendo-se condenado, preferiu preservar uma grande parte de seu exército ordenando-lhe a retirada enquanto que, com um batalhão de 300 de seus hoplitas e alguns outros bravos, escolheu sacrificar-se não apenas para dar tempo a seus soldados de retirar-se, mas também para que seu sacrifício, verdadeiro ato de devotio prematuro, sirva de eletrochoque capaz de levar à mobilização das cidades reticentes em unir-se à Liga de Corinto.

Após um sólido almoço e a promessa que Leônidas lhes havia feito « que eles ceariam naquela mesma noite no Hades », os esparciatas põe-se uma última vez em pé de guerra, esperando silenciosamente o choque das linhas persas. Mas a fim de tornar sua derrota o mais cara possível para Xerxes e de não esperar os assaltos de flechas das tropas encarregadas de tomá-los pela retaguarda, Leônidas lança seus homens direto contra o inimigo. Mesmo após a morte de seu rei, os esparciatas lutam até o fim, com todas as armas que lhes resta e até o último deles.

Permanecendo como um dos exemplos mais ilustres de dedicação à pátria, este combate, ainda que uma derrota tática que não impediu o exército persa de retomar seu avanço, foi uma vitória estratégica uma vez que provocou uma forma de sobressalto que conduziu às vitórias gregas decisivas de Salamina (480) e de Platéia (479).

O que precisa ser lembrado

O sacrifício de Leônidas e de seus Esparciatas nas Termópilas é o exemplo Mesmo do engajamento pela defesa de sua terra, a escolha entre « viver livre ou morrer ».

Mas é também uma ilustração da capacidade de privilegiar o interesse comum. De fato, sem dúvida Leônidas não tinha ilusão sobre sua capacidade de parar o exército aquemênida mas ele sabia que seu gesto ofereceria não apenas tempo mas sobretudo um exemplo a ser seguido pelos esparciatas e mais amplamente por todos os Gregos.

Nicolas L. — Promotion Marc Aurèle

Uma opinião sobre “Tradução : Leônidas e os esparciatas na batalha das Termópilas (18-20 de Agosto de 480 a.C.)

  1. Muito bom. Parabéns pelo trabalho. Necessitamos reavivar nosso espírito bélico neste momento o qual eu considero o mais crítico de toda a nossa História. Afinal, estamos na maior de todas as guerras. Todavia, desta vez, a guerra já começou e muitos ainda não a perceberam. Até há pouco tempo, todas as guerras eram oficialmente declaradas. Agora é diferente. A guerra já começou há décadas. Ela está destruindo nossa civilização sem que a percebamos. Como na conhecida estória do sapo na panela com água, onde o sapo está sendo cozido sem se dar conta. Encaminharei esse texto para os meus amigos. Força e honra!

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