(29-04-2008) Reflexões sobre alienação e Paganismo

Texto originalmente publicado no blog “Parahyba Pagã” em 29/04/2008. Mantivemos a redação original, caso hajam novos comentários estes aparecerão entre chaves [] no texto.

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Alienação, do latim ‘alienus’, “alheio”, “estranho”, “adversário”, “hostil” e do verbo ‘alieno’, “alienar”, “ceder”, “tornar-se inimigo ou louco” em português, geralmente, também está ligado aos conceitos de “afastar-se” e “distanciar-se”. E talvez, coubesse a questão: sim, mas o que isto tem haver com o Paganismo? Isto não é fácil de responder nem nos atreveríamos a tal [?]. O que atentamos, é sinalizar para práticas comuns que parecem se relacionar com tal termo, de uma maneira breve e despretensiosa.

Como um pagão se aliena? Ou quando está alienado? Antes de esboçarmos respostas, é mister clarificarmos o ‘aliena-se’ a respeito de que. Ora, pode se tornar alienado a respeito de muita coisa, como questões políticas e sociais, ecológicas etc. Se assim considerarmos, qualquer um que seja, eventualmente, alienado o será concernente a um conjunto de ‘coisas’. Ou seja, só se aliena de x. Doravante, as questões acima significariam algo próximo à “como um pagão se aliena acerca de tal conjunto de coisas?”. Como fica evidente, agora nos é preciso especificar a que conjunto de coisas nos referimos, e se estende um leque muito amplo diante de nós. A dois conjuntos de coisas que nos parecem, no momento, mais evidentemente servirem de referência para tais questões: O ambiente no qual o ‘alienado’ se insere e questões de justificação das crenças que adota.

O primeiro ponto, o do ambiente onde se está inserido, muitas vezes nos parece relacionado com o segundo; em todo caso, poderíamos tentar defini-lo como uma espécie de distanciamento profundo do ambiente natural, muitas vezes ligado a uma supervalorização de um ambiente distante ou alheio. Os exemplos poderiam se afigurar como: o adolescente que é apaixonadíssimo pela Rússia, sabe que lá há carvalhos e tal, mal sai de seu meio urbano familiar, desconhece e ignora totalmente a fauna, flora, geografia em geral, uma vez que estas não aparecem nos meios que servem para alimentar sua paixão, como listas de discussão de russo, Rodnovery etc. Ou a menina que fascinada pela ‘bruxaria’, frequenta shoppings com seu super visual de bruxa, calçada com suas botas góticas, reúne-se com suas amigas para desfilarem juntas, ignorando completamente a flora local, e todos os outro aspectos como no exemplo anterior.

O interessante é notar que ambos se dizem “pagãos”. Nos dois exemplos, podemos notar a presença de uma espécie de paixão consumista por um rótulo/aparência ou cultura exterior que priva o discernimento e a capacidade de integração ou mero reconhecimento do meio ambiente ao redor. Falta uma clarificação sobre o pertencimento. Ambos se posicionarão a favor de causas “ecológicas”, apesar de ignorarem os dados acerca do desmatamento e outros problemas sérios em suas próprias cidades, ou mesmo bairros; igualmente apoiarão causas ‘distantes’ do Greenpeace, ou então “Save the Tara Hill” (Salve a colina de Tara, na Irlanda), quando um pequeno bosque vizinho de seu bairro é destruído ilegalmente entre outras coisas. Por mais que pareça estranho alguém se importar com “Save the Tara Hill” enquanto ignora completamente as “hills” de seu município ou estado precisando de esforços mais imediatos por estarem em condições deploráveis, consomem no McDonalds e acham que vivem uma vida “pagã”. Se pensarmos, no quão importante, em termos religiosos pagãos, é a relação com o meio ambiente no qual se está inserido ou a própria relação que se tem com o que se come, então o problema ganha uma clareza enorme. Isto também nos parece conduzir ao segundo ponto.

O segundo ponto, o da justificação de crenças adotadas, é um ponto sério [de fato, creio que muita gente negligencia isto, cada vez mais passei a valorizar este ponto]. Por um motivo simples: o paganismo é uma ‘religião natural’, no sentido humeano, é uma religião ‘não-revelada’, suas justificações não estão contidas em escrituras relevadas aos mortais por seres divinos. Algumas religiões pagãs ou correntes/seitas do passado se aproximaram disto, como o Orfismo grego, por exemplo, mas a grande maioria não, e o paganismo contemporâneo num todo, também não [hoje, considero esta formulação simplista e induzidora do erro: o termo “revelação”, se adequadamente considerado, também é a base tradicionalmente entendida de certa lex sacra, na verdade, diria que é a base de quase toda tradição religiosa]. Isto torna alguns dogmas flexíveis e discutíveis, passíveis de crítica e melhoras. No geral há espaço para variações [ou seja, a lógica do “E” em oposição a lógica do “OU” exclusivo, conforme notara Alain de Benoist no “Como se pode ser pagão?”]. Esta liberdade esteve presente também no paganismo antigo, por mais que consideremos os casos judicializados por blasfêmia ou impiedade na Grécia, por exemplo.

Pensamos que o contexto contemporâneo garante ainda mais ao indivíduo o uso de suas faculdades naturais, a ‘razão’, por exemplo, o que teoricamente, favoreceria a fundamentação dos diversos caminhos religiosos como um todo e a “cultura” geral dos envolvidos. Bem, teoricamente. A adoção irrefletida de padrões comportamentais não-explicitamente justificados é, diríamos sem preocupações de errar de longe o alvo, um das principais características de algumas linhas no movimento pagão.

Afinal, o que justifica uma escolha por um caminho e não por outro? Ou por um ‘norteamento’ étnico diferente? Em que medida isto é expresso nas discussões gerais da tradição/caminho? Precisamos de justificativas mesmo? Ou mesmo quais as justificativas para a adesão a um ‘sincretismo’, ecletismo? Creio q questões semelhantes e melhores elaboradas são importantes para a elucidação de algumas base, para que não abracemos determinados caminhos da maneira como outras religiões que muitos pagãos costumam criticar.

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