Violência e Intolerância Religiosa

Desde uns meses, tem ganhado notoriedade midiática certos casos de intolerância religiosa no Brasil, em especial em favelas fluminenses, contra fiéis de religiões de Matriz-Afro. No entanto, vez ou outra se registram casos contra católicos ou espíritas, perpetrados, em boa parte, não por ateístas ou politeístas, mas por outros cristãos, em boa parte dos casos, por evangélicos neopentecostais fanáticos (obviamente, não são todos) ou com problemas mentais.

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A tomada do templo de Delfos pelos Gauleses (1885) – Alphonse Cornet

É natural que diante de tais notícias, muitos em nossa pequena comunidade assumam uma postura, em parte correta mas em parte insuficiente, de reforçar e enfatizar a necessidade da aplicação da lei por parte do Estado. O que há de correto nisto, nem precisa ser esmiuçado, por ser, creio, autoevidente. O que há de insuficiente ou até, por vezes, de ingênuo, é a crença de que as leis e o Estado nos protegerão, quando for necessário. Bem, creio que, qualquer pessoa que viva fora de bolha de cristal da classe média alta no Brasil, saiba que viver no Brasil, justamente, significa, entre outras coisas, que as leis e o Estado nem sempre estarão presentes quando for necessário. E a ingenuidade reside no “esquecimento” deste importante detalhe. E convenhamos, mesmo que funcionassem, o bom mesmo, pelo princípio de autossuficiência, é que não dependêssemos deste funcionamento para nos defendermos nem garantirmos a permanência e crescimento de nossa comunidade religiosa.

Além disto, como já enfatizei noutras postagens, noutras épocas, certa postura puramente discursiva termina só servindo para fortalecer certos grupos políticos (de Esquerda) que, no final do dia, estão interessados mais em instrumentalizar tudo o que puderem em favor de certos partidos e causas (por vezes, abertamente totalitárias e antirreligiosas, tanto quanto o “fundamentalismo” que dizem combater) do que em defender, de fato, o direito à crença e prática religiosa. De modo que, alguns acham que é preciso beijar às mãos de certos políticos e grupos para se protegerem, vendendo lealdade ideológica a pessoas que defendem ideias, no mínimo, suspeitas, em troca de uma suposta segurança jurídica contra abusos de fundamentalistas cristãos.

Este tipo de clientelismo travestido de militância “laicista” não me parece nem digno, nem suficiente. Mas não creio que seja pura covardia, pelo menos na totalidade dos casos: reconheço que seja uma saída prática que certas pessoas decidiram tomar, diante da pequenez de suas comunidades religiosas, da respectiva falta de poder (em termos de influência e força) e dos pressupostos ideológicos que assumem. Que certos religiosos decidam fazer isto, OK, mas gostaria de chamar a atenção dos nossos, dos Iberoceltistas, dizendo-lhes para não seguirmos a manada cegamente e para isto este texto cá está. Podemos, taticamente, apoiar o Laicismo do Estado, por garantir nossa existência e assegurar nossa liberdade de culto e respaldo jurídico, apesar de dentro de nossa comunidade, adotarmos uma postura confessional. Nisto, uma vez que estamos, digamos,  “autocentrados”, não dispomos de motivo algum para nos envolver em violência por motivos de expansão religiosa e demonização das fés alheias, mesmo que consideremos algumas “erradas” e danosas. A grande questão aqui é a possibilidade da violência sofrida, sob forma de agressão injusta, pelo simples fato de sermos politeístas.

Iniciemos por uma consideração de ordem metafísica mais geral.

No mundo Indo-Europeu, em geral, os espaços sagrados delimitados fisicamente, são tidos por Invioláveis, como parte inerente de seu sentido de Sagrado. Não é preciso entrar em um mergulho profundo sobre os códigos jurídicos e suas (inter)relações e fusões com a lex sacra em geral entre os vários povos IEs para vermos certas coisas evidentes (apesar de que o estudo dos códigos como, por exemplo, o apanhado das leis Brehon irlandesas, que junto com as galesas apontam para uma espécie de “lei comum” céltica, ser algo crucial e que nos abre uma compreensão da mentalidade social muito cara para nós, religiosos e afeitos ao tradicionalismo). Isto significa que, basicamente, é inadmissível “crimes” dentro da área sagrada, conforme entendido por todo membro da comunidade religiosa.

De modo que, muitas vezes por certas circunstâncias, certos templos foram usados como refúgios por certos aproveitadores, uma vez que não podiam ser molestados ou abatidos (apesar de que poderiam ser capturados e arrastados para fora do templo, em certos casos) dentro do templo. Há indícios disto na Grécia, e mesmo na Irlanda antiga (onde algumas capelas cristãs herdaram limites de *nemeta anteriores). O sacrilégio da violação do espaço sagrado traz uma pesada pena para o transgressor (a maldição divina, para além da pena capital, em alguns casos).

Dentro deste contexto puramente tradicional, o abatimento de um eventual invasor hostil dentro da área de um templo, só poderá ser sacrificial, do contrário, será um ato sacrílego. Mesmo numa situação como do assassinato de César, por exemplo, pelos conspiradores republicanos, estes parecem terem se sentido autorizados a fazê-lo (uma vez que ocorreu nos limites sagrados do Pomerium, onde não se poderia portar “armas de guerra”, somente adagas curtas) por uma motivação também religiosa, de um sacrifício para salvar a República (cujo estabelecimento era celebrado e concebido religiosamente na festividade do Regifugium) e evitar a volta do despotismo tirânico. Neste sentido, mesmo a execução de criminosos, como bem atestada entre os Celtas em geral, se dava no contexto religioso do sacrifício. No entanto, se sabe que no caso dos Lusitanos, um tipo específico de criminoso, os parricidas, eram executados a pedradas longe dos rios e montanhas, possivelmente por se conceber que tal tipo continha em si uma mácula espiritual (maldição, miasma, etc.) tão forte, que devia ser executado longe dos *nemeta para não correr-se o risco de maculá-los.

No entanto, só a título de registro, a julgar pela imensa e distintiva quantidade de armas (inclusive “de guerra”, longas) que eram dedicadas aos deuses pelos Celtas (e que eram “levadas” para o Outromundo, de modo a acompanhar o morto lá), estes não parecem ter elaborado nenhum tipo de restrição às mesmas nos espaços sagrados (na descrição de Tácito, quando da invasão romana da ilha de Mona, ele deixa claro que os residentes atacaram – com armas – os combatentes da primeira investida – os Auxilia – que haviam sido paralisados pelos encantamentos dos Druidas e Druidesas, só saindo da paralisia mágica, após os berros desesperados dos seus comandantes), de forma alguma, ao contrário do caso do Pomerium em Roma.

Bem, quando o agressor parece ser alguém de uma religião e povo diferente, nem sempre a percepção da inviolabilidade do espaço sagrado fora observada historicamente, como lembramos no caso da invasão a ilha de Mona. O assalto a templos, naturalmente visto como ação ímpia, sacrílega e blasfema, por parte dos cultores, fora relativamente comum (apesar de prova de “barbaridade” ou “impiedade”) no contexto de uma Guerra Aberta. E a defesa armada destes espaços, muitas vezes de forma improvisada por parte de sacerdotes e sacerdotisas, é algo registrado muitas vezes em diversos povos Indo-Europeus e períodos (além de serem eventos que marcaram o imaginário coletivo por gerações, como no caso dos Gauleses em Delfos). Obviamente que são o que são: situações de Vida ou Morte, literalmente. E o principal: entre os povos Indo-Europeus, tal tipo de violência não fora religiosamente motivada. Esquecer deste elemento crucial, é equalizar tais eventos com outros bem diferentes: as cruzadas e guerras de motivação puramente religiosa, características de fés exclusivistas e totalitárias como as abraâmicas. Nossos ancestrais pré-cristãos, podem até ter cometidos atos ímpios e cruéis, mas o fizeram pela expansão política, Recursos, Poder ou Glória, não por proselitismo e exclusivismo religioso.

Voltando as situações mais gerais na nossa época, se considerarmos a violência religiosa como situações deste tipo, simplesmente pelos exemplos históricos, ou hoje como sendo violência religiosamente motivada, ficamos justificados a reagir de forma armada, contando os que eventualmente tombarem, do nosso ou do outro lado, como sacrifícios – de nosso lado, como um ato voluntário virtuoso e soteriológico, a morte honrada e heroica; do lado do inimigo, como um sacrifício de sangue “à moda Antiga”. Isto pode parecer superficial ou tosco, mas de modo algum deve ser entendido como um incitamento: se trata de uma situação extrema e de legítima defesa.

Posto isto, que pode ser discutido, claro, voltemos as questões mais práticas.

Ora, como evitaremos ataques a nossos templos e cultos, uma vez que crescermos em estrutura e mais publicamente formos percebidos? Bem, antes de mais nada, é importante identificarmos as potenciais ameaças para melhor planejarmos nossas defesas. No contexto contemporâneo, de sociedades multiculturais modernas, ataques do tipo geralmente são ou fruto de “lobos solitários” loucos ou organizados por alguns poucos sujeitos, de forma preparada e planejada (e com maior tendência em se repetir).

Sobre o primeiro tipo de ameça, temos de frisar a imprevisibilidade da loucura: por definição, é difícil ou simplesmente impossível, prever com rigor como e quando um ataque perpetrado por um louco acontecerá. Ter isto em mente é importante. Há casos em que o mesmo, em sua loucura, manda “sinais”: ameaças virtuais diretas ou indiretas, etc. Mas há casos em que não há “sinal” perceptível. Para este tipo de ataque, em especial no tocante ao potencial letal do atacante, a defesa mais efetiva, é a pronta resposta armada. Ter membros que portem armas durante o rito é importante e talvez a única maneira de evitar ou diminuir um dano causado por este tipo de atacante.

Idealmente, os que se dedicam ao Caminho do Guerreiro, estarão em prontidão e armados durante um rito, e caberá a eles, a priori, a pronta resposta e a garantia da segurança geral dos demais fiéis e oficiantes. Mas no contexto atual de poucos fiéis e acúmulo de funções rituais, os ritos ocorrem em espaços particulares domésticos de modo a garantir uma segurança pela dificuldade do atacante adentrar o espaço físico. Juridicamente, no caso de uma invasão de domicílio, é importante lembrar que há uma maior cobertura para a legítima reação armada, apesar das aberrações jurídicas de nosso país.

Segundo, fora os ataques perpetrados por loucos, há ataques religiosamente motivados que podem ser mais previsíveis. Seja por serem premeditados, seja pela própria disposição e circunstância do “alvo”. Neste caso, sabendo os atacantes da possibilidade de reação armada, buscarão perpetrar seu ataque em um momento em que esta possibilidade é menor, ou seja, atacando um templo ou altar, buscando profaná-lo, enquanto o mesmo não está sendo utilizado no culto. Neste sentido, quanto mais isolado, escondido, ou distante dos fiéis para guarnecê-lo, mais facilmente poderá ser visto como alvo. Já os que possuem algum tipo de guarnição por parte dos fiéis, tendem a desestimular ataques. Podemos citar o caso do ataque que o templo (na época, um altar) do pessoal da Nova Roma na Ucrânia sofreu e que foi, prontamente, repelido pelo uso de armas de fogo por parte do proprietário do terreno (os atacantes, possivelmente pensaram que o local não era vigiado). Este foi um exemplo real de sucesso na expulsão dos profanadores e que parece tê-los desestimulado de modo sério (pois, até onde sabemos, a construção do Templum prosperou sem novas tentativas).

No entanto, certas variáveis podem decidir sobre a violência e frequência dos ataques, como os diversos casos que nos chegam de certas localidades na Índia, nos sugerem, onde os atacantes realizam seu vandalismo ímpio, nos horários e locais que não estão sendo frequentados. Na maioria destes casos, podemos considerar que se tratam de ataques premeditados com maior previsibilidade. Nestes casos, obviamente, precisamos nos precaver em pensar soluções. A mais sensata delas, dentro do espírito de Sun Tzu de “ganhar a guerra sem desembainhar a espada”, é justamente, cuidar para que o religiões totalitárias persecutórias não se instalem ou se expandam mais ainda em nosso território, claro.

A primeira solução, é a da construção de templos em espaços defensáveis, jurídica e fisicamente. Em termos práticos, isto significa que nossos *nemeta devem estar em propriedades particulares ou vinculados ou próximos (caso sejam propriedade do grupo, enquanto organização social, “igreja”) a uma de alguém do grupo. O exemplo ucraniano que citamos acima, demonstra bem as vantagens deste tipo de coisa. Inclusive, a considerar os *nemeta no estilo gaulês ou mesmo do tipo registrado em Metabodes, Beja, Portugal, a própria estrutura física do *nemetom, com paliçadas e fossos concêntricos no entorno, evocam uma estrutura defensiva e fisicamente mais difícil de ser “invadida”. Além de que, em termos realistas, somos poucos e nossas iniciativas de construção de *nemeta para culto comunitário serão mais viáveis em nossas próprias propriedades. Locais isolados e distantes, frequentados somente em certas festividades, são passíveis de vandalismo ímpio (geralmente por sujeitos que moram próximo) com mais frequência, ao menos que sejam altares ou *nemeta “camuflados” na paisagem. Em todo caso, é bom estar ciente, especialmente em ambientes públicos como parques, reservas, etc. Que ainda sim, como já pessoalmente visto, poderão haver pichações em pedras ou depredação motivada religiosamente, uma vez que fundamentalistas suspeitem de atividade cultual politeísta no local. A limpeza e purificação destes ambientes profanados (cuja profanação pode até ser tipificada como crime ambiental, dependendo do caso) pode vir a ser necessária e o voluntarismo para tal será requerido de nossa comunidade.

Não se trata, é bom lembrar, de uma fixação ou do desejo de que tal coisa aconteça. Na verdade, devemos ser gratos e fazermos o possível, em termos sociais e discursivos, para que possamos praticar nossa fé em paz (o que significa ter um senso de proporção, cortesia e civilidade: não somos, exatamente, a última cereja do bolo, para a comunidade civil mais ampla). Se trata, de algo importante de ser considerado, INFELIZMENTE, por causa das possibilidades que se afiguram. Em um contexto ideal, este tipo de texto e reflexão, nem seria necessário. Além de que, na maioria das vezes, certos ataques premeditados são antecedidos por sinais: ameaças anônimas nas redes sociais, ou in loco, etc. Estar atento a estas ameaças é importante, não apenas para denunciá-las às autoridades competentes do Estado, mas também para despertar de modo mais sério uma “consciência situacional” (Situational Awareness). Afinal, como em termos objetivos temos mais capacidade de ação direta sobre o que está em nosso controle ou depende exclusivamente de nós, é importante frisar a importância de não ser tolo.

Na melhor das hipóteses, a qual temos de cultivar e desejar, não haverá nenhum tipo de profanação ou ataque contra nossos *nemeta e/ou fiéis. Na hipótese ruim, poderá haver alguma tentativa de profanação de um *nemeta mas, sem violência aos fiéis diretamente. Na pior das hipóteses, o ataque violento visando nos exterminar, quando em culto e aí, é uma situação extrema, que nos exigirá uma medida extrema. Que nunca aconteça com os nossos, pelos Deuses dos nossos Ancestrais, mas se tal infortúnio se abater sobre algum de nós, que estejamos aptos a responder de forma enérgica e digna dos nossos Maiores.

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