(03-10-2008) Tradução: Apiano “A Guerra Viriática” – §61-75

Texto originalmente publicado no blog “Parahyba Pagã” em 03/10/2008. Mantivemos a redação original, caso hajam novos comentários estes aparecerão entre chaves [] no texto.

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Alguns trechos [capítulos XI e XII] do tomo “Acerca das Guerras na Ibéria” do “Guerras Estrangeiras” de Apiano.

Dispomos uma parte de nosso tempo para traduzir um pequeno trecho de uma obra que apesar de tardia, (o que muitas vezes faz com que repita exaustivamente suas fontes) traz relatos importantes. A história de Viriato, o mais afamado herói lusitano da antigüidade, me parece um dos mais belos exemplos do ‘ethos’ antigo e de uma moral quase divina, e por tanto, exemplar. Acredito que apenas em um sentido religioso se perceba a profundidade de seus feitos e se reconheça sua grandeza. Particularmente, desconfio que Uercingetorix é “famoso” (no sentido de ser o mais conhecido do público leigo  mundo afora) como exemplo de herói contra Roma por causa do poderio econômico e cultural francês, pois creio que os feitos de Viriato são maiores. Exemplos como estes são Eternos e transcendem as fronteiras de povos, épocas e línguas. Alertamos o leitor para que leia com atenção, procure, pesquise. E rogamos aos Deuses dos nossos ancestrais Galaicos e Lusitanos, para que iluminem nossas mentes com disposição altiva para a Virtude.

Tentamos traduzir os termos buscando a máxima proximidade com a pronúncia “da época” (há certa ajuda no próprio texto de Appiano que foi escrito em grego, apesar de que traduzi diretamente do inglês, apesar de que eventualmente consultei um termo ou outro). Por isso, ‘Uiriatho’, e não ‘Viriato’, ‘Iunius’ e não ‘Júnio’, etc.

[Desfiz isto, aportuguesei todos os nomes das pessoas citadasnovamente, deixei os nomes das cidades sem alterar]

Fonte: Perseus Project.

Trechos 61 à 75.

(61)Não muito depois, aqueles que escaparam da vilania de Lúculo e Galba, reunindo se até somarem 10.000, tomaram a Turdetânia. Gaio Vetílio marchou contra eles, trazendo um novo exército de Roma e também empregando os soldados que já estavam na Hispania, de forma a ter cerca de 10.000 homens. Ele atacou os inimigos, matando muitos deles, forçando o restante para um local onde, se ficassem, estariam em perigo de perecerem por fome, e se saíssem cairiam direto nas mãos dos Romanos. Estando acuados nesta situação, enviaram mensageiros para Vetílio com galhos de oliva pedindo terra para habitarem e concordando, dali em diante, em obedecerem aos Romanos em tudo. Ele [Vetílio] prometeu dar-lhes a terra e o acordo estava quase fechado quando Viriato, que escapou da perfídia de Galba e estava entre eles, lembrou-lhes da má fé dos Romanos, contando-lhes como anteriormente havia perjurado em violação aos juramentos, e como todo aquela tropa era composta por homens que haviam escapado das perfídias de Galba e Lúculo. Se eles o obedecessem, ele disse, ele [Vetílio] deveria mostrar-lhes uma retirada segura daquele local.

(62)Animados pelas novas esperanças que ele [Viriato] havia lhes inspirado, o escolheram como seu líder. Ele os pôs em formação de batalha mas ao invés de lutar, deu-lhes ordens para que quando ele montasse seu cavalo eles se abrissem espaços em todas as direções e fizessem seus caminhos por diferentes rotas até a cidade de Tribola e lá o aguardassem. Ele escolheu somente 1000 a quem comandou ficarem com ele. Este arranjo sendo feito, todos abriram fuga tão logo Viriato montou seu cavalo; Vetílio temeu perseguir os que haviam aberto caminho em tantas direções diferentes, mas se voltou contra Viriato que havia ficado lá aparentemente aguardando a chance de atacar, movendo guerra contra ele. Este [Viriato], possuindo cavalos muito rápidos, surpreenderam os Romanos atacando-os, e então retirando-se, novamente se reagrupando e novamente atacando, e assim consumiram o dia inteiro a correr por aí no mesmo campo. Tão logo ele supôs que os outros haviam escapado em segurança, ele acelerou para longe à noite, por caminhos tortuosos e chegou a Tribola com seus ágeis garanhões, sem que os romanos conseguissem acompanhá-los em passo igual em razão do peso de suas armaduras, da ignorância das estradas e da inferioridade de seus cavalos. Assim resgatou Viriato, de um modo inesperado, seu exército de uma situação desesperada. Este feito, se tornando conhecido para várias tribos da vizinhança, trouxe-lhe fama e muitos reforços de diferentes lugares, permitindo-lhe mover guerra contra os Romanos por oito anos.

(63)É minha intenção aqui relatar esta guerra com Viriato,  que molestou tanto os Romanos e foi tão mal administrada por eles, e tomar daqui por diante os outros eventos que aconteceram ao mesmo tempo na Hispania. Vetílio o perseguiu até que ele viesse a Tribola. Viriato, tendo previamente posto uma emboscada em uma moita densa, se escondeu até que Vetílio estivesse atravessando o lugar, quando ele virou, e esses que estavam na emboscada pularam em cima. Por todos os lados eles começaram a matar os romanos, enquanto os dirigiam por sobre precipícios e tomavam prisioneiros. O próprio Vetílio foi levado prisioneiro; e o homem que o capturou, não, sabendo quem era ele, mas vendo que ele era velho e gordo, o considerando inútil, o matou. Dos 10,000 romanos, 6000 com dificuldade, fizeram o caminho para a cidade de Carpessos na beira-mar a qual eu penso que foi chamada antigamente pelos gregos Tartessos, e era governado pelo Rei Argantônio de quem é dito que viveu cento e cinqüenta anos. Os soldados que escaparam para Carpessos, ficaram estacionados nos muros da cidade pelo quæstor que acompanhava Vetílio, horrivelmente desmoralizado. Tendo pedido e obtido 5000 aliados dos Bellos e Tithos [tribos celtíberas aliadas dos Romanos], ele enviou-os contra Viriato que matou-os todos, de forma a não restar um para contar a história. depois disso, o quæstor permaneceu na cidade quietamente esperando ajuda de Roma.

(64) Viriato infestou o país frutífero da Carpetania sem oposição, e saqueou-o até que Caio Pláucio veio de Roma trazendo 10,000 soldados à pé e 1300 à cavalo. Então Viriato de novo fingiu retirada e Pláucio enviou 4000 homens para persegui-lo mas ele retornou e matou todos exceto uns. Então, cruzou o Tagus e acampou em uma montanha coberta de oliveiras, chamada de Montanha de Vênus. Lá Pláucio o encontrou, e ansioso para recobrar seu infortúnio, uniu-se em batalha com ele, sendo derrotado com uma grande matança e retirando-se em desordem para as cidades, e foi “invernar” na caserna no meio do verão sem ousar mostrar-se em qualquer lugar. Adequadamente Viriato varreu o país inteiro sem aviso e requereu aos proprietários das colheitas crescentes que o pagassem o valor requerido, ao contrário, os destruiriam.

(65) Quando este fatos tornaram-se conhecidos em Roma, eles enviaram Fábio Máximo Emiliano, o filho de Emílio Paulo (que tinha conquistado Perseus, rei da Macedônia), à Hispania, dando-lhe poder para convocar um exército. Como Cárthago e Grécia haviam sido recentemente conquistadas, e a terceira guerra Macedônica acabara com sucesso, de maneira que pudesse poupar os soldados que há pouco haviam voltado deste lugares, recrutou jovens que nunca haviam guerreado, em número de 2 legiões. Ele obteve forças adicionais dos aliados e chegou à Orso, uma cidade da Hispania, tendo ao todo 15,000 à pé e 2000 à cavalo. Como ele não desejava se engajar com o inimigo até que suas forças estivessem bem disciplinadas, fez uma viagem ao Estreito de Gades [Gibraltar], em vistas a sacrificar à Hercules. Enquanto isso, Viriato caiu sobre seus lenhadores, matou muitos, e espalhou o terror no resto. Seu tenente saiu para a luta, Viriato também o derrotou e capturou um grande butim. Quando Máximo retornou, Viriato reagrupou suas forças repentinamente e ofereceu batalha. Mas Máximo recusou comprometer o exército inteiro e continuou exercitando seus homens, enviando freqüentemente para fora companhias encouraçadas, fazendo juízo da força do inimigo, e inspirando coragem em seus próprios homens. Quando enviava batedores ele sempre punha um cordão de legionários ao redor dos homens desarmados e ele próprio cavalgava ao redor pela região com sua cavalaria. Ele havia visto seu pai Paulo fazer isto na guerra na Macedônia. Quando o inverno terminou, e seu exército estava bem disciplinado, ele atacou Viriato e foi o segundo general romano a colocá-lo à bater retirada (embora ele tenha lutado valorosamente), capturando duas de suas cidades, pilhando uma e queimando a outra. Ele perseguiu Viriato até um local chamado Bæcor e matou muitos dos seus homens, depois, invernou em Cordoba.

(66) Agora Viriato, não estando tão confiante como antes, desraigou os Arevacos, Titthos e Bellos, povos extremamente guerreiros, de suas submissões aos Romanos, e esses começaram a empreender outra guerra em conta própria que foi longa e tediosa aos Romanos, e que foi chamada de Guerra Numantina, nome aferido de uma de suas cidades [a gloriosa Numância!]. Eu darei certa conta desta depois de terminar a guerra com Viriato. A chegada tardia para um compromisso em outra parte da Hispania, com Quinto, outro general romano, e estando pior, [Viriato] voltou à Montanha de Vênus. De lá partiu e matou 1000 dos homens de Quinto e capturou alguns de seus estandartes e conduziu o restante para dentro do acampamento deles. Ele também conduziu em retirada à guarnição de Itucca e saqueou o país dos Bastianos. Quinto era inapto a render-lhes ajuda por causa de sua timidez e inexperiência, mas foi invernar na caserna em Cordoba no outono, e freqüentemente enviava Caio Márcio, um hispânico da cidade de Italica, contra ele [Viriato].

Capítulo XII.

(67)Ao fim do ano, Fábio Máximo Serviliano, o irmão de Emiliano, veio suceder Quinto no comando, trazendo duas novas legiões de Roma e alguns aliados, de maneira que suas forças ao todo, somassem cerca de 18,000 à pé e 1600 à cavalo. Ele escreveu à Micipsa, rei dos Numidianos, para enviá-lo alguns elefantes tão rápido quanto possível. Enquanto marchava apressado para Itucca com o exército em divisões, Viriato o atacou com uma tropa de 6000 com grande barulho e clamor barbárico, usando cabelos longos os quais costumavam balançar nas batalhas para terrificar seus inimigos, mas ele não foi surpreendido. Ele ficou firme corajosamente, e o inimigo partiu sem realizar nada. Quando o resto do seu exército chegou, vieram com 10 elefantes e 300 cavalos da Africa, ele estabeleceu um grande acampamento, avançou contra Viriato, o derrotou e o perseguiu. A perseguição tornou-se desordenada, e quando Viriato observou tal coisa enquanto batia em retirada, reuniu a tropa e matou 3000 romanos, forçando os demais a se retirarem para o acampamento. Ele atacou o acampamento também onde uns poucos fizeram guarda nos portões, a maioria se escondendo embaixo de suas tendas com medo, e sendo com dificuldades trazido de volta a seus deveres pelo general e os tribunos. Aqui Fânio, o cunhado de Lélio, mostrou esplêndida bravura. Os romanos foram salvos pelo crepúsculo. Mas Viriato continuou realizando incursões na noite ou no calor do dia, aparecendo em cada momento inesperado com suas tropas leves e seus cavalos velozes para aborrecer o inimigo, até que forçou Serviliano a voltar a Itucca.

(68)A esta altura Viriato, estando desejosos de provisões, e com seu exército muito reduzido, queimou seu acampamento na noite e voltou à Lusitânia. Serviliano não o alcançou, mas caiu sobre o país da Bæturia e pilhou 5 cidades que tinha estado ao lado de Viriato. Depois disso, ele marchou contra os Cônios, e depois, para à Lusitânia mais uma vez, contra Viriato. Enquanto ele marchava dois capitães de bandoleiros, Cúrio e Apuleio, com 10,000 homens, atacaram os romanos, os lançaram em confusão, e capturaram algum butim. Cúrio morreu em combate e Serviliano não obstante recuperou o saque e tomou as cidades de Escadia, Gemella e Obolcola, as quais haviam sido chefiadas por Viriato. Outras ele pilhou e ainda outras poupou. Tendo capturado cerca de 10,000 prisioneiros, decapitou 500 deles e vendeu o resto como escravos. Foi invernar na caserna, tendo já 2 anos de comando. Tendo realizado estes labores, Serviliano retornou à Roma e foi sucedido no  comando por Quinto Pompeio Aulo. O irmão do anterior, Máximo Emiliano, tendo recebido a rendição do capitão dos bandoleiros, nomeado Cónoba, libertou-o mas cortou as mãos de todos os seus homens.

(69)Enquanto seguia Viriato, Serviliano assediou Erisana, uma de suas cidades. Viriato entrou [às escondidas] na cidade à noite e ao raiar do dia caiu sobre os que estavam cavando trincheiras, compelindo-os a abandonarem as pás e correrem. Da mesma maneira ele derrotou o resto do exército o qual estava delineado em ordem de batalha por Serviliano, os perseguiu e os conduziu para penhascos dos quais não havia chance de escapar. Viriato não foi arrogante na hora da vitória, mas considerando esta uma oportunidade favorável para trazer a guerra para um fim e ganhar a grande gratidão dos Romanos, ele fez um acordo com eles, e este acordo foi ratificado em Roma. Viriato foi declarado amicus populi romani, um amigo do povo romano, e foi decretado que todos os seus companheiros teriam a terra as quais ocupavam. Assim a Guerra Viriática que tinha sido tão extremamente dura para os Romanos, parecia ter sido satisfatoriamente resolvida e acabada.

(70)A paz não foi de longa duração, pois Cépio, irmão de Serviliano que havia terminado [a guerra], e seu sucessor no comando, protestou contra o tratado, escrevendo para casa [Roma] que o mesmo era muito desmoralizante para a dignidade do povo romano. O Senado, a princípio, autorizou que ele provocasse Viriato de acordo com sua própria discrição, contanto que fosse feito secretamente. Pela persistência e continuidade do envio de cartas, ele conseguiu a quebra do tratado e a renovação das hostilidades contra Viriato. Quando a guerra pública foi declarada, Cépio tomou a cidade de Arsa, a qual Viriato abandonou, e seguiu Viriato em pessoa (que bateu em retirada e destruiu tudo em seu caminho) até a distante Carpetania, sendo as forças romanas muito mais fortes do que as suas. Viriato julgando não ser sábio engajar-se na batalha, em conta de pequenez de seu exército, ordenou a grande parte dele para retira-se para um esconderijo seu, enquanto ele se aproximou com os restantes em uma colina na qual intentava lutar. Quando julgou que os que haviam sido enviados anteriormente tinham alcançado o lugar [do esconderijo] a salvo, ele lançou-se ante eles com tal descuido do inimigo e tal ligeireza que seus perseguidores não souberam para onde ele tinha ido. Cépio voltou-se contra os Vetões e os Galaicos [aliados dos Lusitanos] e devastou seus campos.

(71)Seguindo o exemplo de Viriato, muitos bandos guerreiros fizeram incursões na Lusitânia e a saquearam. Sexto Júnio Bruto, que foi enviado contra eles, desesperou em segui-los pelo extensivo país saltado pelos rios navegáveis Tagus, Lethes, Durius e Baetis, por ter considerado extremamente difícil surpreendê-los enquanto retiravam-se de lugar à lugar após [atacarem], a maneira de bandidos, já considerando uma tarefa infame e não muito gloriosa, já que teria de conquistá-los todos. Ele, então, voltou-se contra suas cidades, pensando que assim vingar-se-ia deles, e ao mesmo tempo que tomaria uma quantidade do butim para seu exército, forçaria os bandoleiros a se espalharem, cada um para sua própria cidade, quando seus lares forem ameaçados. Com este desígnio ele começou a destruir tudo que estava em seu caminho. Aqui ele encontrou as mulheres lutando e perecendo em companhia com os homens com tal bravura que elas nem se quer choravam em meio à matança. Alguns dos habitantes fugiram para as montanhas com o que podiam carregar, e à estes, quando pediram perdão, Bruto o concedeu, levando suas posses como multa.

(72)Ele cruzou então o rio Durius, levando a guerra ampla e distante tomando como clientes aqueles que se rendiam, até que chegou ao rio Lethe, sendo o primeiro dos Romanos a pensar em atravessar a correnteza. Passando sobre este, ele avançou para outro rio chamado Nimis, onde atacou os Brácaros em vista deste haverem saqueado suas provisões. Eles eram um povo extremamente guerreiro, as mulheres portavam armas como os homens, que lutavam sem nunca virarem-se, nunca mostrando suas costas ou proferindo um grito [de dor]. Das mulheres que foram capturadas muitas se mataram e o restante matava os próprios filhos com suas próprias mãos, preferindo a morte à escravidão. Houveram algumas cidades que se renderam à Bruto e logo depois se revoltaram. Estas, Bruto as reduziu a sujeição novamente.

(73)Uma das cidades submetidas que constantemente se revoltava era Talabriga. Quando Bruto movia-se contra ela, os habitantes pediam perdão e ofereciam rendição em discrição. Ele primeiro demandou deles todos os desertores, os prisioneiros, e as armas que tinham, e os clientes [as vilas/cidades vassalas desta] em adição, e depois ele ordenou que evacuassem a cidade com suas esposas e filhos. Quando eles tinham obedecido estas ordens, ele os cercou com armas e fez um discurso à eles, contando-os quão constante eles tinham se revoltado e renovado a guerra contra ele. Tendo os inspirado com medo e com a crença de que sofreriam um castigo terrível, ele cessou as repreensões. Tendo os privado de seus cavalos, provisões, dinheiro público e outros recursos gerais, ele deu à eles de volta a cidade para habitarem, contráriando às suas expectativas. Tendo conquistado estes resultados Bruto retornou à Roma. Eu uni estes eventos com a história de Viriato, por causa de que eles ocorreram com outros bandos guerreiros na mesma época e em imitação a ele.

(74)Viriato enviou seus amigos de maior confiança, Audax, Ditalco e Minuro a Cépio para negociarem os termos de paz. O último os subornou com grandes presentes caso prometessem assassinar Viriato. Viriato, em conta dos cuidados excessivos e labores, dormiu um pouco, e pela maior parte descansou de armadura, pois, quando acordasse estaria preparado para qualquer emergência. Por este motivo, foi permitido à seus amigos visitá-lo à noite. Tirando vantagem deste hábito, aqueles que estavam associados com Audax a guardá-lo, entram em sua tenda como que em negócios, assim que ele acabara de dormir, e o mataram através de uma punhalada na garganta, que era o único local de seu corpo não protegido por armadura. A natureza da ferida foi tal que ninguém suspeitou do que tinha acontecido. Os assassinos fugiram para Cépio e o perguntaram pelo resto do pagamento. Pelo presente ele deu-lhes a permissão de desfrutarem a salvo do que eles já haviam recebido; assim como o restante de suas demandas ele referiu-as à Roma. Quando à Aurora vieram os criados de Viriato e o restante do exército pensou que ele ainda descansava e imaginava o porquê de seu longo repouso, até que alguns deles descobriram que ele jazia morto em sua armadura. Imediatamente houve luto e lamentação por todo o acampamento, todos eles pranteando por ele, temendo por sua própria segurança, pensando que perigos haviam lá dentro [da tenda], e considerando a envergadura do general que eles havia sido tomado. A maioria estava entristecida por não haver achado os perpetradores do crime.

(75)Eles vestiram o corpo de Viriato em vestes esplêndidas e o queimaram em uma pira funerária alta. Muitos sacrifícios foram oferecidos. Tropas armaduradas de cavalo e à pé marcharam ao redor da pira cantando seus louvores à maneira bárbara. Nem partiram da pira até que o fogo houvesse se extinguido. Quando os obséquios terminaram, houve competições gladiatórias na sua tumba. Tão grande foi o respeito por Viriato depois de sua morte, um homem que teve as mais altas qualidades de comandante como reconhecido entre os bárbaros, sempre o primeiro em enfrentar o perigo e o mais exato na divisão dos espólios. Ele nunca consentiu em levar a parte do leão [a porção do Campeão?], mesmo quando os amigos imploravam, mas tudo o que ele adquiriu, dividiu [igualmente] entre os mais valentes. Assim ocorreu (uma tarefa tão difícil e nunca antes conseguida por outro chefe bárbaro tão facilmente) que em oito anos desta guerra, em um exército composto de várias tribos, nunca houve sedição, os soldados sempre foram obedientes e destemidos na presença do perigo. Depois de sua morte, eles escolheram um general de nome Tântalo e fizeram uma expedição contra Saguntum, a cidade a qual Haníbal conquistara e restabelecera a nomeando de Nova Cartago, em homenagem ao próprio país. Quando foram reprimidos desta localidade e atravessavam o rio Bætis, Cépio pressionou-os tão duramente que Tântalo ficou exaurido e entregou suas armas à Cépio na condição de que deviam ser tratados como súditos. Este, os desarmou e deu a eles terras suficientes [as terras que já eram deles, para variar], de forma que não fossem mais levados à bandalheira por desejo. Desta maneira a Guerra Viriática terminou.

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