Como da vez anterior, vou começar sugerindo dois livros voltados à tradição céltica e medieval, e, em seguida, partir para uma sugestão de leitura indo-europeia porém não céltica para as nossas crianças. No post anterior de mesmo tema, eu sugeri a leitura da obra ‘Tristão e Isolda’ infanto-juvenil de Maria Nazareth Alvim de Barros, e hoje vou comentar a respeito de uma outra obra da mesma autora: ‘Merlin, o Mestre da Magia’ foi igualmente editado pela Companhia das Letrinhas, e conta com ilustrações de Laurent Cardon – muito belas, por sinal. O livro tem 45 páginas em letras fáceis de ler, dividido em pequenos capítulos que contam episódios da vida do mago Merlin, iniciando-se com uma explicação sobre a formação da Bretanha após a queda de Roma, e da organização social dos povos galeses durante os primeiros séculos da era cristã, quando a autora localiza sua narrativa – mostrando acordo com a literatura vernacular e bárdica deste país. Tendo o mago Merlin como personagem principal e responsável pela ascensão do Rei Arthur, o texto possui um leve cariz nacionalista, novamente em acordo com o encontrado na literatura vernacular galesa e no Renascimento Cultural Celta dos séculos XVIII e XIX vividos na Grã-Bretanha. Todavia, a obra faz passagens pelos temas e personagens criados pelos escritores tardios da Matéria da Bretanha, sob influência da côrte de origem normanda que se instalou na Inglaterra no século XI, conferindo assim à obra personagens como Viviane, a Dama do Lago, e nomenclaturas francesas para os personagens. Em suma, o texto é leve, divertido e breve. Recomendo para crianças entre 8 e 12 anos, não mais em fase de alfabetização, mas já capazes de encarar um enredo desta complexidade.
O segundo livro que vou comentar é ‘Fadas’ da série Mitologia publicada pela Editora Nobel e de autoria de John Malam, com ilustração de Fernando Molinaro. Trata-se de um livro informativo e, algumas vezes até descritivo. A intenção do autor aqui é enumerar variadas espécies daquilo que ele e, a literatura infantil, chamam de fadas, assim passando por criaturas do Sidhe irlandês, elfos escoceses e até nereidas gregas. Um ponto interessante do livro é que cita também os seres maléficos vinculados a estes folclores como os goblins, entre outros. Dando às crianças aquele alerta de que também precisam as Pink Wiccas e Neo-Pagãos: Não é porque você chama de fadas e conheceu através da literatura infantil que os seres dos Outros-mundos são todos bonzinhos, ao contrário, assim como qualquer outra forma de vida, eles podem ser gentis ou maldosos dependendo de sua própria natureza e das circunstâncias, por isso, cuidado com o que se mete e com as informações que dissemina por aí! O livro é rico em imagens e os textos são curtos, podem ser lidos para crianças em fase de alfabetização bem como interessar até às mais crescidas.
Por fim, vamos à obra de Padraic Colum, traduzida para o português e editada pela Única, e intitulada ‘Os Filhos de Odin’. Colum foi um romancista, dramaturgo, biógrafo e coletor do folclore irlandês, nascido no século XIX e peça fundamental no Revivalismo da Literatura Irlandesa, influenciando, por conseguinte, o Celtismo político e o Renascimento do Paganismo. Colum escreveu também algumas obras voltadas ao público infanto-juvenil, retiradas do folclore irlandês e, como é o caso da obra aqui citada, da tradição escandinava. Children of Odin: Nordic Gods and Heroes, foi originalmente escrito em 1920, e desde 2015 está disponível em português do Brasil, notadamente após os filmes da Marvel sobre personagens nórdicos terem despertado o interesse por Thor, Loki e Odin, entre outros. Mas é aí que considero a obra de Colum mais benéfica: Não se trata de uma tradução das Eddas, mas é suficientemente fiel para, não só divertir e saciar a curiosidade infanto-juvenil a respeito da Mitologia Nórdica, como também para passar informações acertadas e fidedignas a respeito daqueles que não são apenas personagens de mitolgoia, literatura, quadrinhos e filmes, mas antes de tudo são deuses, imortais, amálgama das crenças e da própria existência e identidade dos povos germânicos.
O livro conta com 220 páginas, narrando desde a Cosmogonia da Mitologia Nórdica até o Ragnarok, ou como o autor chama “o crepúsculo dos deuses”. Divide-se em capítulos de 3 a 6 páginas e não contém ilustrações. É uma obra destinada a crianças maiores de 10 anos, e pode mesmo ser lida por adultos e adolescentes com igual interesse. Cada capítulo conta uma estória, um mito, sem necessária conexão com os anteriores e posteriores, e por isso podem ser lidos um a cada noite ou a cada semana pelas crianças, dependendo da idade e desenvolvimento escolar. Todas as estórias fundamentais ao politeísmo nórdico e a uma educação que abrange os ideais da cultura indo-européia, como o do heroísmo, a hierarquia familiar, entre tantos outros, estão presentes na obra, que, na minha opinião, é imperdível para crianças politeístas.