Muito poderia ser falado, refletido e especulado, mas não é esse meu intento. Passo cá rapidamente, diante da repercussão geral do trágico incêndio na catedral católica de Notre Dame em Paris, mesmo diante da nebulosidade em torno do que ocasionou tal catástrofe, para lembrar uma coisa por vezes esquecida ou mesmo desconhecida sobre este sítio específico: o Pilar dos Navegantes.
Monumento bem conhecido de quem estuda a religião céltica, o Pilar dos Navegantes fora encontrado nas fundações da dita catedral no séc. XVIII, atestando que o recinto sagrado, antes de ter sido cristão, fora celta. Construído na época do interdito romano ao Druidismo, o monumento fora dedicado por uma guilda de comerciantes e navegantes a Júpiter-Taranus e a outras divindades (sendo a famosa dedicação a Esus e a constelação de Touro, Tarvos Trigaranus). Muito possivelmente, com o passar dos anos, terá sido organizado como um templo do culto romanizado que deve ter perdurado até a cristianização.
Cristianização essa que não nos permite identificar bem suas circunstâncias. Pelo menos não consegui identificar fontes para relatar a mesma, apesar do contexto geral mais amplo do confisco de templos “pagãos” por parte da autoridade política cristã após seus respectivos “desmontes” e impedimentos operacionais independentes. Mas não sabemos exatamente como foi o processo e não ajuda fomentar ressentimentos numa hora desta. O fato é que, ruim ou bom, permaneceu certa continuidade da percepção do *noybos, da configuração de energia vital do local ao longo das eras dos homens, tal era sua vitalidade.
Tal continuidade que levou o historiador e filósofo politeísta Dominique Venner a escolher Notre Dame como local de seu autossacrifício em 21 de maio de 2013. Parece, ao olharmos as imagens propagadas deste incêndio de ontem, haver um vulto de algo maior; parece até que dá para ouvir um murmúrio de algo oculto a se aproximar. Mesmo que tenha sido um incêndio criminoso (a ser encobertado para não fomentar revolta social contra os principais suspeitos, é de se esperar), afinal, a França tem sido alvo de vários ataques do tipo, isto não parece esgotar o ocorrido, como o caso do incêndio em nosso Museu Nacional em setembro de 2018. Há algo a mais: é um símbolo do Ocaso, uma figura do Interregno.