“Tríade Homérica: A Natureza Como Base” de Dominique Venner

[Tradução de trecho da obra “Un samouraï d’Occident: Le Bréviaire des insoumis” de Dominique Venner. Publicado em 2013 por Pierre Guillaume de Roux (219 a 222). Notas em itálico adicionadas pela autora.]

Para os antigos, Homero era “o começo, o meio e o fim”. Uma visão do mundo e até uma filosofia se deduz implicitamente de seus poemas. Heráclito os resumiu como a base cósmica em uma formulação bem sua: “O universo, o mesmo para todos os seres, não foi criado por nenhum deus nem por nenhum homem; mas sempre foi, é e será eternamente fogo vivo…”

A percepção de um Cosmos não criado e ordenado se acompanha de uma visão encantada levada pelos mitos antigos. Os mitos não são crenças, mas imagens e energias manifestando parte do divino no mundo.

Se a observação da natureza ensina os gregos a moderar suas paixões, a limitar seus desejos, a ideia de que eles têm sabedoria antes de Platão não é branda. Eles sabem que ela se associa aos acordos fundamentais nascidos das oposições superadas, masculino e feminino, violência e doçura, instinto e razão. Heráclito estava na escola homérica quando anunciou que a natureza ama aos opostos e que a partir destes produz a harmonia.

[O que, aliás, faz todo sentido já que a deusa Harmonia é filha de Ares e Afrodite, os princípios masculino e feminino respectivamente]

Assim, para os europeus do futuro, Homero legou os modelos e princípios da vida sob a forma de uma tríade: A Natureza como base, a excelência como objetivo, e a beleza como horizonte.

Os Europeus modernos ainda são sensíveis à beleza da natureza abarcada por Homero. Nela, e em sua imanência, aqui e agora, encontram as respostas para suas angústias, para as questões maiores da vida e da morte: “Como nascem as folhas, assim fazem os homens. As folhas, de volta em volta, são espalhadas pelo vento sobre o solo e a floresta verdejante que as faz nascer quando se erguem os dias de primavera. Assim são os homens: uma geração nascida no mesmo instante em que outra murcha” (Ilíada, VI, 146)

Uma a cada vez as gerações se desvanecem para garantir a renovação da vida. Esta é a ordem da natureza. A cada noite o sol desaparece para reaparecer a cada manhã. A doença, a velhice e a morte, mesmo a de una criança, são dádivas naturais, talvez cruéis, mas não dependem da atenção que um deus possa dar a cada um dos bilhões de humanos que habitam o planeta.

Homero corrige contudo a fatalidafe natural da morte, ao sugerir que os mortais transmitem alguma coisa de si mesmos àqueles que virão em seguida, assegurando assim que permaneçam uma parcela da eternidade. Ele não trata apenas da transmissão pela geração de descendência. Homero fala de manter em repetição as lembranças deixadas na memória. É o que diz Helena na Ilíada: “Zeus nos deu um duro destino para que nós sejamos mais tarde cantados pelos homens do futuro” (VI, 357-358).

A vida e a morte tecem a trama destes grandes poemas, os quais sugerem respostas à nossa finitude e a uma “vida bela”, tal como entenderam os estóicos, de acordo com a ordem do mundo.

Na Odisséia,  a longa e perigosa viagem de retorno, símbolo da reconquista de uma harmonia perdida, é pontuada por dificuldades e armadilhas. Uma delas tem por nome Calypso, doce e encantadora ninfa. Ela se enamora do navegador a ponto de querer retê-lo consigo por todo o sempre em sua ilha paradisíaca. Ulisses não se resigna a esta prisão lasciva. O desejo de regressar o atormenta mais do que qualquer sedução. Querendo fazê-lo ceder, no canto V da Odisséia (203-220), Calypso lhe oferece o impossível a um mortal. Ela oferece a imortalidade e a juventude eterna, aquilo que outros chamam de paraíso. E o inacreditável acontece, Ulisses recusa. Ele intenta assumir seu destino de mortal, retornar a Ítaca e lá reencontrar Penélope para morrer ao seu lado. Nada será pior do que viver para sempre longe de sua terra e dos seus. O significado desta recusa ainda nos toca. Ulisses ensina que uma vida conforme a ordem da natureza, ainda que às vezes cruel, é superior a todas as miragens da eternidade. “Ó, minha alma”, dirá Píndaro, “não aspire à vida eterna, mas esgote o campo do possível”.

[Dominique Venner, historiador e ensaísta. Pagão, nacionalista francês e ex-combatente, dedicou os últimos anos de sua vida a alertar o Ocidente e, em especial a Europa, da iminente invasão e acelerada destruição de seu povo e seus valores. Dedicou-se também aos deuses ao se auto-sacrificar no altar da catedral de Notre Dame, antigo templo gaulês, em 21 de Maio de 2013.]

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