Sobre calendários lunissolares

Faz um tempo já que a cada novo início do ano civil preciso dedicar umas horas (que podem se transformar em muitas, muitas mesmo!) elaborando um calendário para uso doméstico. Dispor de uma linguagem “própria” para descrever a realidade temporal, especialmente quando dispomos de uma percepção religiosa desta, não é mero “fetiche” identitarista, mas uma necessidade intrínseca da própria vivência. Neste sentido, faz um bom tempo que advogo para que sejamos guiados por um calendário “civil” e por um “litúrgico”, este último, nosso de facto, o primeiro, “repaganizado” onde der (daí a mudança nos nomes dos dias da semana e a possibilidade de encarar a “Era de César” como marco inicial, ao invés de adotar o “antes” e “depois de Cristo”).

Claro, os que adotam uma perspectiva hispano-romana não precisam se preocupar com nada disto: basta-lhes a adoção “repaganizada” do calendário gregoriano que é, basicamente, continuidade do calendário juliano, diferenciando, se assim desejarem, o aspecto “ritual” do mesmo. Na verdade, para muitos, será também a saída mais “econômica” e prática, pois toda nossa sociedade e cultura mais ampla já estão funcionando numa dinâmica muito mais cômoda para esta opção. Eu mesmo, confesso, após anos e anos, vez ou outra creio que ceder a uma certa romanização é inevitável. Mas voltemos a questão do nosso calendário.

Quando digo “nosso” não digo “único” para todos o iberoceltistas. Como creio que no passado, haviam calendários “tribais” ou significativamente diferentes (em termos de festivais observados, datas importantes, nomes de meses, etc.), mesmo que a partir de uma mesma “base”, me parece ortoprático que hoje seja assim novamente: um grupo Iberoceltista do interior do Nordeste terá, naturalmente, uma dinâmica calêndrica diferenciada em alguma coisa, de um grupo do extremo sul do país, por exemplo. Do mesmo modo em se tratando de correligionários no Brasil, nos outros países da América Ibérica ou das Terras Ancestrais na Europa. Já escrevi sobre isto noutras ocasiões, inclusive sobre o marco inicial e não pretendo me repetir.

O motivo deste texto se reduz ao compartilhamento de uma hipótese que terminei aceitando num nível mais sério este ano, em decorrência deste processo de revisitação à literatura sobre calendário e ao trabalho de revisão em si (e de algo mais um tanto nebuloso ainda). Me refiro a posição de que o calendário céltico se iniciava no Verão e não no Inverno. Há uma controvérsia acadêmica antiga sobre o tema e com o crescimento do Neopaganismo, consolidou-se no imaginário mais recente a posição de que os Celtas iniciavam o cômputo formal do ano com o “Fim do Verão”, e a redundância sobre isto fora repetida ad nauseam de modo a parecer simplesmente errôneo, e quase absurdo, cogitar o contrário. Além de que, se fomentou uma posição tácita de unidade “calêndrica” aferida de certas interpretações do famoso calendário gaulês conhecido como “Calendário de Coligny” e das tradições folclóricas irlandesas, como levantadas e estudadas por uma parcela de estudiosos do séc. XIX.

Mas as coisas não são tão simples assim e quanto mais alguém estudar o tema, verá. Um dos melhores apanhados iniciais (mas abrangentes) da defesa do início do calendário no Verão vem de um já datado, mas útil, artigo do site de um grupo neodruídico australiano chamado Caer Australis. Conheço esta interpretação, basicamente, desde a época em que foi publicada. Mas, por qual motivo então, só teria sido “convencido” agora? E o que muda, na prática, em tal convencimento? Bem, vamos ao que interessa.

Primeiro, uso e advogo que se utilize (no Iberoceltismo, assim como noutras formas de “Celtismo” continental) um calendário litúrgico lunissolar. Basicamente, os Romanos antigos usaram um, Gregos, Gauleses e há quem defenda que Germânicos também. Só por isto, já seria bem provável que fosse o “calendário base” dos demais povos Indo-Europeus do Ocidente. Mas mais ainda, temos evidências da importância religiosa do cômputo dos ciclos lunares, coisa que mesmo na dúvida, faz um sistema lunissolar ser interessante. Daí que, faz anos, resolvi pegar a “estrutura” do famoso Calendário de Coligny, basicamente, retirar os elementos extremamente dúbios e alvo de eternos debates (me refiro a interpretações de certas marcações, cujo consenso, após mais de século de estudo, parece ainda bem longe) e adaptá-lo para o uso. Mantive a mesma divisão do mês em duas quinzenas, a ordem dos meses de 30 e 29 (ou 28!) dias, etc. Troquei os nomes gauleses por nomes, inicialmente luso-galaicos e celtibéricos, posteriormente por portugueses e pronto, tenho utilizado com relativa satisfação por uns anos já. Dentro de uma tal estrutura, ficam claras as festas móveis: os Solstícios e os Equinócios, variando de ano a ano (como no calendário gregoriano comum) e caímos na questão de considerar as 4 festas célticas como “móveis” ou “engessá-las” numa lunação específica. Confesso que sempre intuí que a última opção seria a adequada, mas racionalmente preferi celebrar tais festas nas datas comuns nas quais a comunidade mais ampla celebra também. Daí que na prática, tornei os grandes *lītowes “festas móveis”, ficando fixos somente os ritos domésticos das lunações.

No entanto, sempre ficaram certos problemas. O mais gritante, o do próprio início do cômputo, que se entendermos como meramente sazonal, gera uma discrepância de inversos entre o Hemisfério Sul e o Norte; ou se entendermos como de ordem sideral, gera uma discrepância entre os dois hemisférios, com potenciais efeitos “mitológicos” a serem desdobrados por especulação metafísica, como apontarei mais tarde. Se o ano começa antes do Samonis, na Europa começará entre, grosso modo, Outubro e Novembro, mas na América do Sul, entre Abril e Maio, e mesmo que consideremos que aqui comece “atrasado”, isso não resolve muita coisa, além de nos legar esta ideia estranha de “atraso” temporal de 6 meses. Uma maneira de não resolver isto, é basicamente ignorar e se contentar com tal irresolução fundamental como sendo da própria realidade: que é basicamente o que vinha fazendo.

Além de que, esta relativa irreconciliação, aparentemente me eximia de elaborar um panorama calculado de uma Era, ou ciclo metônico completo, por afastar os marcos “siderais” para o ramo da mera especulação (e na prática, desvincular o plano dos astros, assumindo um foco “imanentista”, digamos, focado nos ciclos biorregionais somente). Na prática, isto terminava em não me fazer considerar o ano dentro do pequeno ciclo de 5 anos, gerando problemas com a posição dos meses intercalares. Daí que, sempre havia diminuído a importância dos argumentos dos que defendiam o marco “sideral” para o início e sempre havia reforçado a tese de que “início no Escuro” (os Celtas contavam os dias a partir do crepúsculo) significava “início no Inverno”: o que valia para a pequena jornada do dia de 24h, servia para a grande jornada do ano. E como a percepção céltica geral do ano é dividida em duas “metades”, a escura, invernal, viria primeiro. Tanto que via o início do mês lunissolar com a Lua ainda Negra (de notar que há um estudo interessante que explica um possível “atraso” de seis dias explicando a frase de Plínio em dizer que os gauleses iniciavam o mês no sexto dia da lunação). É possível que algo do meio tenha me influenciado também, pois cresci numa atmosfera cultural onde era comum uma certa observância sóbria do anoitecer e referências às orações às 18h, além de ainda ser costume forte no interior no Nordeste encarar o ano em duas estações: Verão e Inverno, com a diferença que o Verão, em boa parte dos interiores, cá dura mais do que 6 meses.

No entanto, este ano, por algum fator que ainda me é conscientemente oculto, o componente “sideral” me chamou atenção. Talvez por morar na zona rual, faz uns anos que me pego olhando para a constelação de Órion e para as Plêiades, e recentemente ao avistar estas últimas, lembrei-me do avistamento de Saturno em Touro após o crepúsculo (ascensão acrônica, em oposição a ascensão heliacal, como seria de se esperar de um povo que inicia o dia com o anoitecer) como marco “sideral” na época do Equinócio de Março. E aí retornei aos textos e de repente, cada vez mais me pareceu adequada a interpretação do início no Verão… Pois é leitor, a coisa ainda me está obscura.

Bem, por curiosidade, resolvi conferir as posições do planeta e da constelação no céu utilizando um software e a calcular o sincronismo e disposição dos anos num calendário lunissolar “Coligny-típico”. Isto me levou a rever, novamente, meu calendário litúrgico, corrigi-lo e a buscar uma solução mais satisfatória. Daí que resolvi achar o marco sideral mais próximo e calcular um ciclo de 30 anos, em 6 grupos de 5 ciclos, como é de se esperar de um calendário “Coligny-típico”. Obter uma visão mais ampla do funcionamento do calendário numa janela de tempo maior, ao contrário do que fazia, me parece mais adequado.

Em termos simples, o marco sideral consiste na visualização clara de Saturno na constelação de Touro na época do Equinócio de março, sendo a primeira lunação, o início do primeiro mês do calendário. Fiz tal simulação, como já colocado, com um software e primeiro utilizei os referenciais de geolocalização de onde vivo e depois, a título de confirmação, utilizei as coordenadas da cidade portuguesa de Coimbra. O pessoal do Caer Australis baseou seus cálculos na visualização de Saturno em Touro no ano de 2002. No entanto, descobri alguns problemas com esta posição: 1) Saturno já parecia estar “saindo” da constelação, 2) a lunação ocorreu um pouco antes do equinócio propriamente.

Logo me pareceu que as coisas ocorreram antes, já que aparentemente o “Vigilante Noturno” passara mais tempo na constelação do Touro (“Trigruado”, ou seja, de Três Gruas). E como diz Plutarco (De Facie, §26, 941) a observância é quando se entra, não quando se está para sair. Daí que Saturno já estava em Touro em 2001 e a data do marco sideral ficou clara em março daquele ano, com uma lunação começando na noite de 25 de março de 2001.

Descoberto o que me parece ser o marco mais recente, calculei os ciclos e confirmei que conflitavam com minhas considerações antigas. Por exemplo, pelos novos cálculos, estávamos no ano 3 (que possui um mês intercalar no meio) e não no 2 (como achava antes) do ciclo de 5. A partir das leituras, sabia que um mês intercalar teria de ser suprimido a cada 30 anos e no próprio Calendário de Coligny há uma inscrição que deixa a entender que a supressão se dá no primeiro ano do primeiro ciclo. Bem, coloco estas coisas cá como um incentivo a quem quiser conferir e fazer os cálculos por si mesmo, inclusive, aproveito para que, caso o leitor identifique algum erro, por favor, me comunique.

Basicamente, os inícios dos anos ficarão assim (corrigido):

  • Início do ano 1 (1/5): anoitecer de 25/3/2001 (sem o mês intercalar)
  • Início do ano 2 (2/5): anoitecer de 15/3/2002
  • Início do ano 3 (3/5): anoitecer de 3/3/2003
  • Início do ano 4 (4/5): anoitecer de 22/3/2004
  • Início do ano 5 (5/5): anoitecer de 10/3/2005
  • Início do ano 6 (1/5): anoitecer de 28/2/2006
  • Início do ano 7 (2/5): anoitecer de 19/3/2007
  • Início do ano 8 (3/5): anoitecer de 6/3/2008
  • Início do ano 9 (4/5): anoitecer de 26/3/2009
  • Início do ano 10 (5/5): anoitecer de 14/3/2010
  • Início do ano 11 (1/5): anoitecer de 4/3/2011
  • Início do ano 12 (2/5): anoitecer de 23/3/2012
  • Início do ano 13 (3/5): anoitecer de 11/3/2013
  • Início do ano 14 (4/5): anoitecer de 31/3/2014
  • Início do ano 15 (5/5): anoitecer de 19/3/2015
  • Início do ano 16 (1/5): anoitecer de 8/3/2016
  • Início do ano 17 (2/5): anoitecer de 28/3/2017
  • Início do ano 18 (3/5): anoitecer de 16/3/2018
  • Início do ano 19 (4/5): anoitecer de 5/4/2019
  • Início do ano 20 (5/5): anoitecer de 23/3/2020
  • Início do ano 21 (1/5): anoitecer de 13/3/2021
  • Início do ano 22 (2/5): anoitecer de 2/4/2022
  • Início do ano 23 (3/5): anoitecer de 21/3/2023
  • Início do ano 24 (4/5): anoitecer de 9/4/2024
  • Início do ano 25 (5/5): anoitecer de 28/3/2025
  • Início do ano 26 (1/5): anoitecer de 18/3/2026
  • Início do ano 27 (2/5): anoitecer de 7/4/2027
  • Início do ano 28 (3/5): anoitecer de 25/3/2028
  • Início do ano 29 (4/5): anoitecer de 13/4/2029
  • Início do ano 30 (5/5): anoitecer de 1/4/2030

Mas… e a conversa do ano céltico iniciar no início do Verão? Bem, aí é onde entramos na parte mais inusitada destas considerações todas. Creio que a solução mais razoável, uma vez que se adote tal marco sideral, é considerar que: o ano litúrgico se inicia antes do Verão no Hemisfério Norte e antes do Inverno no Hemisfério Sul. Sem “atrasos”, o mesmo ano, paralelamente, ocorre nas duas direções: numa no Norte, noutra no Sul. Ou seja, se tivéssemos dois grupos utilizando o calendário de Coligny, um na Europa, outro aqui, eu diria que no mesmo ano, para os europeus o ano iniciaria no mês SAMON e para os daqui no mês GIAMON. Sei que é uma solução vista como “estranha”, mas me parece, no momento, ser a única mais razoável. Claro, pra mim, que estou no Hemisfério Sul, onde o Equinócio de março é Outonal, o ano litúrgico continua a iniciar na “parte escura” do ano. Mas já não digo o mesmo, com tanta convicção, para os colegas europeus. Para nossos ancestrais Celtas, e mais especificamente para os celtas continentais, talvez o ano começasse antes do Belotenedes, enquanto cá comece antes do Samonis. Para nós, começar o ano antes do Inverno não seria “tradicional”, mas uma condição própria de nossa realidade hemisférica.

De notar que isto seria válido, se assim for, talvez para todo e qualquer calendário lunissolar, e não apenas para um “céltico”. E nisto, o tema (e o debate) se ampliaria para as demais religiões e tomaria proporções muito maiores.

No entanto, isto talvez tenha consequências metafísicas maiores e suspeito, se isto estiver certo, que requeira alguma explicação mítica como norteadora. Por exemplo, alguém poderá dizer que, sob a perspectiva do Hemisfério Sul, com o ano começando no Equinócio Outonal, tenhamos uma visão do caminho do Sol em sentido anti-horário, ou seja, para o Norte, ao invés da concepção tradicional do sentido horário, para o Sul, e com isto haveria uma inversão de sentido nas direções de uma circambulação ou mesmo de certos gestos rituais.

Obviamente que isto mudaria muita coisa e se for o caso, significaria que eu próprio fiz muita coisa “ao contrário” ao longo deste tempo todo. Talvez, para salvar a concepção tradicional das direções, argumentemos que as mesmas são independentes do percurso visível do Sol numa dimensão calêndrica, ou que se tornaram independentes (pela acumulação da ação “mágica” coletiva, ou usando terminologia ocultista, por “egrégora”), etc. Mas aí, claro, deixo o tema aberto ao debate e creio que seja secundário, pois depende da visão do calendário e da premissa de que o “poder”, *brigom, de tais ações esteja, de alguma forma, ligado ao caminho do Sol.

É importante notar também que uma tal posição não significa, necessariamente, uma declaração de compromisso com a crença de unidade calêndrica no passado. Na verdade,  é algo diverso e mais modesto. E como teoria geral, considerando que o calendário deva “dialogar” com a biorregião dos seus usuários, numa quase simbiose, e ao mesmo tempo deva ser uma ferramenta funcional de cômputos siderais (que são, por definição, nada “locais”), se trata mais de uma declaração de diferença, não de “igualdade”. Além de que, mesmo que a interpretação do Calendário de Coligny começando no verão esteja correta, isto não significa que tenha sido exatamente assim seja para todos os povos celtas que existiram na Europa, seja para os religiosos de hoje. E o mesmo com o que é válido para a Irlanda.

Na antiga Hispania.

No caso específico dos celtas da Ibéria, para além de alinhamentos megalíticos e de santuários, que mostram a observação ritual dos Solstícios, Equinócios e Lunações (e das festas célticas), e raros testemunhos epigráficos, a questão do início do ano também sempre ficara dependente, por parte dos estudiosos e acadêmicos, da visão mais geral sobre os Celtas.

O registro famoso da Ara de Marecos, cuja data no calendário romano fora preservada (5º de Abril, ou seja, no 5º dos Idos de Abril, que é o dia 9 de Abril no calendário juliano), nos dá um testemunho da importância das festividades que, se nossa interpretação estiver correta, corresponderiam as festividades do início do ano para os Lusitanos, caso estes adotassem um calendário lunissolar (“Coligny-típico”). Sabemos o ano do sacrifício a partir dos cônsules L. Annius Largus e Gaius Prastina Messalinus que estiveram juntos no cargo no início do ano 147 da era comum (ver a lista de cônsules na Wikipédia). Ou seja, se recuarmos com ajuda de um software ao dia 9 de abril de 147, o que veríamos no céu? Qual seria a fase da lua? Bem, primeiro, vejamos quando foi e como estava o céu no Equinócio anterior (de março):

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A primeira lunação ocorreu, justamente, a partir do anoitecer do dia 19 de março e vejam que curioso, temos o nosso “marco sideral”: Saturno em Touro, com a Lua alinhada com as plêiades:

captura de tela de 2019-01-04 10-19-50

Se considerarmos a dinâmica de um tal ritual e de se esperar que sua culminância e desfecho (e inauguração do registro em pedra) tenha ocorrido no dia 9 de Abril no calendário romano, mas que na visão céltica seria parte do dia anterior ainda, iniciado no crepúsculo. Daí que interessa mais ver o céu no anoitecer do dia 8 de abril:

captura de tela de 2019-01-04 10-14-17

A Lua, já minguando visivelmente, com 70% de visibilidade, surgiria no nascente somente depois da meia noite e meia:

captura de tela de 2019-01-04 10-16-21

Num sistema lunissolar onde se iniciasse o mês com a lunação, teríamos o início do mês (e do ano) lá para o dia 19 ou 20 de março, e o anoitecer do dia 8 de abril coincidiria com o quinto dia após o primeiro dia de Lua cheia. Considerando que a olho nu podemos ver a lua cheia por quase 3 dias, não deixa de ser interessante que o registro do rito tenha sido feito dois dias após o término da cheia… Eu próprio fico tentado, especialmente após confirmar nosso marco “sideral” em março daquele ano, a pressupor que o registro de Marecos seja a culminância de um rito ocorrido durante o plenilúnio, iniciado no anoitecer das Nonas de Abril (ou seja, a partir do dia 5) pelo calendário romano. E como a diferença entre o que chamamos hoje de calendário gregoriano e o juliano naquela época era de cerca de 1 dia a menos no gregoriano, a diferença de 2 dias do final da cheia, cai para 1 dia somente. Ou seja, não me parece ser “coincidência” tamanha sincronia.

Se – SE – os sacrificantes da Ara de Marecos utilizassem um calendário lunissolar, pelo menos até aquela data, o registro do sacrifício na data juliana, não seria “coincidência”: na verdade, no meu ver, confirmaria a extensão cultural do “marco sideral” no Ocidente  (fundamentando mais ainda seu uso hoje) e nos daria pistas sobre o uso de um calendário lunissolar. O registro teria sido feito, usando a terminologia do calendário de Coligny, no dia 4 após o ATENOUX do mês SAMON, ou seja, somente 1 dia após o término do TRINOXSAMOSINDIV… Bem, é um assunto que rende muito pano para manga e que comporta um nível de especulação muito grande, e por isto mesmo, vou parando por aqui. Mas espero, pela graça da Altíssima, que tenha rendido alguma reflexão proveitosa e seja um incentivo para o estudo.

4 opiniões sobre “Sobre calendários lunissolares

  1. Obrigada por estes fascinantes artigos!

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